Uma equipe composta por 18 arqueólogos, antropólogos e peritos forenses iniciou nesta semana a escavação de um antigo sistema de saneamento na propriedade onde funcionou o antigo Hospital de Mães e Bebês de Tuam, na Irlanda. O objetivo é localizar, identificar e proporcionar um sepultamento digno aos restos de cerca de 796 crianças, muitas delas recém-nascidas, enterradas de forma desrespeitosa entre 1925 e 1960.
Busca por dignidade e reconhecimento
Segundo informações do The Irish Times, uma máquina de escavação deve vasculhar o local pelos próximos dois anos para encontrar os restos mortais das crianças, que, na época, foram enterradas em condições que os responsáveis por sua sepultura classificaram como “desrespeitosas e inaceitáveis”.
A iniciativa acontece aproximadamente 11 anos após a historiadora Catherine Corless revelar que 796 crianças faleceram na instituição entre 1925 e 1961. Apenas duas dessas crianças foram sepultadas em cemitérios locais. Em 2014, a pesquisadora divulgou sua investigação, que culminou na descoberta de ossadas humanas no local, e uma escavação preliminar revelou vestígios de restos mortais, indicando uma possível sepultura coletiva em condições insalubres.
Desculpas públicas e fatos históricos
A Ordem das Irmãs de Bon Secours emitiu uma declaração de desculpas reconhecendo o tratamento inadequado dado às crianças e às mães na época. A entidade também comprometeu-se a contribuir com €12,97 milhões (cerca de US$ 15 milhões) para o fundo de compensação às vítimas divulgado pelo governo irlandês.
“Esses bebês estão em um sistema de esgoto. Precisamos retirá-los de lá”, afirmou Catherine Corless na segunda-feira, após o local ser cercado por uma cerca de oito pés de altura, conforme reportado pelo The Irish Times.
Alta mortalidade infantil em instituições similares
Em janeiro de 2021, uma comissão nacional de investigação revelou, em um relatório de 3.000 páginas, níveis alarmantes de mortalidade infantil nesses hospitais para mães solteiras na Irlanda. O documento detalha o que ocorreu entre 1922 e 1998 em 14 instituições e quatro centros regionais, onde crianças abandonadas, além de adultos doentes ou com deficiência, também viviam.
Estima-se que aproximadamente 9.000 crianças morreram nessas estruturas, o que corresponde a 15% dos 57.000 indivíduos que passaram por esses locais ao longo do período investigado. Entre as situações mais chocantes está o caso de Bessborough, onde mais de 900 crianças morreram sob os cuidados das Irmãs do Sagrado Coração, sem que haja registros de sepultamentos adequados.
Negligência e indiferença pública
De acordo com o relatório, a maioria das mortes ocorreu por doenças respiratórias e gastroenterite, frequentemente atribuídas às péssimas condições sanitárias, como falta de água quente, saneamento e formação adequada dos funcionários. A investigação revela que as autoridades locais estavam cientes dessas altas taxas de mortalidade, mas optaram por não agir, demonstrando uma “indiferença generalizada” em relação às crianças.
Ao tornar pública a pesquisa, as Irmãs de Bon Secours emitiram um pedido oficial de desculpas e comprometeram-se a pagar €12,97 milhões ao fundo de compensação às vítimas. A ex-regional das irmãs, Sister Eileen O’Connor, admitiu que “os bebês e crianças mortos foram enterrados de maneira desrespeitosa e inaceitável” e que a congregação “participou do sistema que trouxe sofrimento, solidão e dor”.
O ex-arcebispo de Dublin, Dermot Farrell, reforçou que “não podemos mais fugir da dolorosa verdade de que, coletiva e individualmente, falhamos em cuidar das mulheres e crianças vulneráveis”. O governo irlandês também pediu desculpas publicamente, mesmo com muitas dessas instituições sendo públicas, mas geridas por religiosas.
O ex-presidente da Conferência dos Bispos da Irlanda, Eamon Martin, pediu que “quem puder ajudar, o faça”, para que essas crianças possam receber um sepultamento digno, onde suas famílias possam lembrá-las.
Esta história foi publicada originalmente pela ACI Prensa e adaptada pela CNA, agência de notícias em língua espanhola.