O governo federal publicou nesta quarta-feira (16) o decreto que regula a Lei de reciprocidade, uma medida que busca responder às tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil. A assinatura do documento por presidente Luiz Inácio Lula da Silva ocorreu após a investigação comercial iniciada pelos EUA contra o país, refletindo momentos de tensão no mercado cambial e comércio internacional.
Repercussões no mercado financeiro e na política externa
O dólar registrou alta de 0,19%, cotado a R$ 5,5683 às 9h10, acompanhando os desdobramentos da ofensiva do presidente Donald Trump contra o Brasil. Na noite de ontem, o Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) iniciou uma investigação comercial, com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, alegando práticas desleais do Brasil, incluindo ataques às empresas de mídia social americanas.
Segundo o embaixador Jamieson Greer, representante comercial dos EUA, a investigação visa apurar “ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas americanas”. Além disso, o documento sugere que as ações do Brasil prejudicam interesses dos EUA, podendo resultar na aplicação de tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros.
Respostas do Brasil e movimentações diplomáticas
Após a iniciativa dos EUA, o vice-presidente Geraldo Alckmin retomou reuniões com empresários brasileiros afetados pelas tarifas, buscando alternativas e discutindo possíveis respostas. O governo brasileiro afirma que não pretende solicitar adiamento na entrada em vigor das tarifas de Trump, mas aposta na via diplomática para reverter a medida.
Nas reuniões, empresários de setores como o industrial e o agrícola solicitaram que o governo tente ampliar o prazo antes de aplicar medidas de reciprocidade. O coordenador do governo, porém, mantém a postura de negociar intensamente com os americanos, na esperança de evitar uma escalada de tensões comerciais.
Impactos na economia e na popularidade de Lula
O cenário político interno também reflete-se nos índices de popularidade do governo Lula, que, segundo a pesquisa Quaest, mostrou uma leve melhora na avaliação. A desaprovação caiu para 53%, enquanto a aprovação subiu para 43%, após o confronto com Trump ser parcialmente creditado pelo aumento na popularidade.
Além disso, decisões na esfera jurídica continuam em curso. Uma audiência de conciliação no STF sobre o aumento do IOF terminou sem acordo, e a decisão final agora depende do ministro Alexandre de Moraes, o relator do caso. Essa questão é fundamental para o equilíbrio fiscal do país, diante do planejamento de manter o déficit zero em 2025.
Dados internacionais e influências sobre a inflação
Na análise do cenário externo, as estatísticas de preços nos EUA mostram que o índice de preços ao produtor (PPI) ficou estável em junho, com avanço de 2,3% na comparação anual. Especialistas avaliam que alguns reajustes refletiram o impacto das tarifas e das disputas comerciais, especialmente em categorias como eletrodomésticos, vestuário e bens de consumo.
“Algum repasse de custos provocados pelas tarifas é visível em categorias de eletrodomésticos, indicando efeitos que podem influenciar o quadro inflacionário”, explica a economista Andressa Durão, do ASA.
Monitoramento da cotação do dólar e do Ibovespa
Até o momento, o dólar acumula alta de 0,18% na semana e 2,29% no mês, embora registre uma queda de 10,06% no acumulado do ano. Já o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, acumula queda de 0,58% na semana e 2,60% no mês, mas mantém avanço de 12,44% na métrica anual.
Esses movimentos indicam os efeitos das tensões comerciais e das incertezas políticas sobre o mercado financeiro. Analistas destacam que, embora o dólar tenha subido, o real ainda apresenta volatilidade diante das expectativas de resposta do Brasil às medidas de Donald Trump.
Perspectivas e próximos passos
O governo brasileiro segue buscando o diálogo com os Estados Unidos para evitar medidas mais duras, enquanto aguarda a decisão final do STF sobre o aumento do IOF. A publicação do decreto de regulamentação da Lei de reciprocidade marca uma tentativa de proteger os interesses comerciais e econômicos do Brasil frente às ações externas.