No último dia 15, uma reunião entre o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), empresários paulistas e Gabriel Escobar, encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos, ocorreu à portas fechadas no Palácio dos Bandeirantes. O evento não teve sua lista de participantes divulgada e a agenda oficial de Tarcísio não incluía essa reunião até momentos antes de sua realização, o que levantou suspeitas sobre a transparência do encontro.
Um encontro controverso
O fato de não ter sido anunciado previamente chamou a atenção e desagradou alguns segmentos políticos. A reunião aconteceu em um momento em que Tarcísio havia adotado uma postura de diálogo com autoridades norte-americanas na tentativa de reverter o polêmico “tarifaço” proposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump. A postura do governador gerou críticas, especialmente do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), que acusou Tarcísio de agir com “subserviência servil às elites”, exacerbando um já intenso embate político entre os representantes do atual governo e os bolsonaristas.
A busca por soluções econômicas
O grupo de empresários, composto por representantes dos setores industrial e agrícola, buscou articular o encontro com o representante americano para discutir os impactos das tarifas na economia brasileira. Fontes do governo paulista confirmaram que Tarcísio foi fornecido de relatórios detalhando as consequências financeiras da medida, que implica uma sobretaxa de 50% sobre o setor de exportação. Estuda-se o impacto desta medida não apenas em termos de volume de exportação, mas em toda a cadeia produtiva e arrecadação de impostos.
Reuniões paralelas e prioritárias
Informações não oficiais indicam que algumas entidades preferiram se concentrar em reuniões com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) em Brasília, a fim de influenciar diretamente o governo federal nas negociações com os Estados Unidos, visando reverter a decisão de Trump. O atual presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, demonstrou essa estratégia ao se encontrar com Alckmin em vez de Tarcísio, refletindo uma possível divisão de prioridades dentro do setor produtivo.
Preocupação com a resposta brasileira
Os empresários expressaram apreensão com as declarações do presidente Lula (PT), que sinalizou uma possível resposta ao “tarifaço” através da Lei de Reciprocidade Econômica. Essa estratégia poderia resultar em aumento de impostos sobre produtos americanos, elevando ainda mais os custos de produção e gerando uma tensão adicional nas relações bilaterais. O consenso entre os empresários é que é preciso distensionar essas relações e buscar o consenso econômico em vez de políticas incendiárias.
Apelo à diplomacia
Em nota divulgada à imprensa, Paulo Skaf, organizador do encontro, destacou a importância da “sólida integração de cadeias produtivas” entre Brasil e Estados Unidos. O grupo de cerca de 20 empresários dos setores de aviação, suco de laranja, café, máquinas, madeira e etanol enfatizou a necessidade de esforços diplomáticos para mitigar os impactos das novas tarifas. “O momento exige maturidade, firmeza e cooperação”, escreveu Skaf, pedindo que o diálogo prevaleça em prol dos interesses econômicos reais e da competitividade da indústria brasileira.
Evitar a política partidária
Nos bastidores, os empresários têm afirmado que a reunião não buscou envolver questões políticas ou partidárias, evitando relacionamentos com figuras controversas e buscando apenas soluções pragmáticas para as dificuldades impostas pelas novas tarifas. Apesar das críticas, o encontro reflete uma preocupação genuína com o impacto econômico das políticas atuais e a necessidade de manter um canal aberto para a negociação e diálogo com os Estados Unidos.
O desfecho das discussões e as reações políticas a esse encontro podem ter um papel significativo nas relações entre Brasil e Estados Unidos, bem como na dinâmica política estadual. À medida que as negociações continuam, a expectativa é que um enfoque colaborativo prevaleça, garantindo que as vozes do setor produtivo sejam ouvidas.