Dentre os pais da Igreja, um dos mais respeitados é Santo Agostinho de Hipona, cujos ensinamentos sobre hospitalidade e a condição humana ainda ressoam fortemente na sociedade atual. Em uma reflexão profunda, o bispo de Marabá, Dom Vital Corbellini, nos convida a compreender a dimensão espiritual da hospitalidade, ressaltando a fragilidade da vida humana e a importância de acolher aqueles que nos rodeiam.
A condição de hóspedes na terra
Santo Agostinho costumava afirmar que todos nós somos, em essência, estrangeiros e hóspedes neste mundo. Essa afirmação ressoa diariamente, especialmente em tempos de crise, onde muitos se veem deslocados, sem um lar ou um lugar a que pertencem. “A nossa pátria é lá no alto”, instiga Agostinho, lembrando-nos de que a verdadeira morada não é terra, mas no divino.
Conforme o bispo Corbellini, reconhecer essa condição de hóspedes é essencial para desenvolver um espírito acolhedor. Quando ajudamos os necessitados, estamos, em essência, ajudando ao próprio Cristo, conforme as palavras de Jesus em Mateus 25:35: “Eu era estrangeiro e me acolheste”. A prática de acolher o próximo se torna, assim, um reflexo do amor de Deus por nós e pela humanidade.
O valor da hospitalidade
A hospitalidade, segundo Santo Agostinho, é um sinal fundamental do cristão verdadeiro. Receber com amor as pessoas que nos pedem ajuda revela não apenas uma atitude solidária, mas também uma forma de enxergar Cristo na vulnerabilidade do outro. As palavras de Dom Vital Corbellini ecoam essa visão, mostrando que aqueles que estão em situação de necessidade são refletidos na imagem do Senhor. “Neles está presente o Senhor Jesus que se fez igual a nós em tudo, menos o pecado”, enfatiza Corbellini.
A visão de Cristo nos necessitados
Ao refletir sobre os dois discípulos de Emaús, Santo Agostinho questiona como devemos enxergar a presença de Cristo nas pessoas que encontramos. Muitas vezes, perdemos a esperança e a visão devido às dificuldades do dia a dia. Não percebemos que em cada gesto de acolhimento, em cada ato de misericórdia, encontramos Cristo. “Todas as vezes que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25:40) ressoa como um chamado urgente a vivermos a fé de modo ativo, não apenas em palavras.
Misericórdia e boas obras
A prática da misericórdia é central no ensinamento de Santo Agostinho. Para ele, misericórdia não é apenas um sentimento, mas um chamamento à ação. É quando a dor do outro toca o nosso coração que podemos agir. Agostinho nos exorta a que cada ato de bondade, seja ao alimentar um faminto ou ao acolher um estrangeiro, é uma expressão da nossa essência cristã. As boas obras realizadas são um reflexo do amor de Deus em nós e a maneira como, como cristãos, podemos devolver o amor ao mundo.
A hospitalidade como um dom divino
Dom Vital Corbellini destaca, portanto, que a hospitalidade é uma responsabilidade que todos nós temos como membros da comunidade de fé. Através do exemplo de Santo Agostinho, ele nos lembra que a prática da hospitalidade se torna um caminho para a santidade e um testemunho da nossa relação com Deus. “Nós somos chamados a amar a Deus e ao próximo como a nós mesmos”, afirma o bispo, reforçando que essa é a essência do cristianismo.
A visão de Santo Agostinho sobre hospitalidade e misericórdia é, portanto, um convite a todos nós – a não apenas reconhecer nossa condição de hóspedes, mas também a agir em amor e solidariedade. Num mundo que muitas vezes parece afastar as pessoas, o chamado para acolher e amar é mais relevante do que nunca. Seja em nossas casas, comunidades ou na própria Igreja, os ensinamentos de Agostinho nos lembram que o verdadeiro cristão é aquele que vê e acolhe Cristo no próximo.
A prática da hospitalidade e a vivência da misericórdia nos ensina sobre a fragilidade da condição humana e, ao mesmo tempo, sobre a grandeza do amor de Deus. Somente assim, podemos nos tornar verdadeiros instrumentos de paz e esperança neste mundo tão necessitado.