O Jardim Botânico de Brasília anunciou que, a partir de agosto, começará a derrubar mais de 600 pinheiros que estão espalhados por várias áreas do parque, como o estacionamento, o espaço de piqueniques e o entorno da estufa. Essa decisão, baseada em um estudo da Universidade de Brasília (UnB), visa restaurar a flora nativa da região, que tem apresentado desvantagens em relação aos pinheiros, espécie não nativa.
Motivos para a substituição dos pinheiros
Os pinheiros, que foram plantados na década de 1980, não se integram bem ao ecossistema local. Segundo a administração do parque, esses árvores são importadas e não servem como abrigo para a fauna da região, como aves e roedores. Além disso, elas tendem a “isolar” as áreas onde são plantadas, dificultando o crescimento de outras espécies vegetais.
Allan Freire, diretor-presidente do Jardim Botânico, explicou que, em um estudo realizado em 2014, foi constatado que havia 62 mil pinheiros na estação ecológica do parque, e que esse número poderia chegar a mais de 300 mil até 2036, caso não houvesse intervenções. Isso demonstra uma proliferação rápida, o que aumenta os riscos associados a essas árvores. “Já houve quedas de árvores, mas felizmente, até agora, não causaram danos a ninguém”, destacou Freire.
Incidentes relacionados à queda de pinheiros
Recentemente, em abril de 2024, um pinheiro caiu no estacionamento do Jardim Botânico, atingindo outra árvore, mas não havia ninguém no local no momento da queda. Casos como esse aumentam a preocupação com a segurança dos visitantes, especialmente em dias de grande movimentação.
O que será plantado no lugar
A retirada dos pinheiros deve durar até outubro e dará lugar a espécies nativas do cerrado, como ipês e sombreiros, algumas delas já adultas. Para garantir que os visitantes ainda tenham sombra durante a espera pelo crescimento das novas árvores, tendas serão instaladas nas áreas de piquenique que atualmente são cobertas pelos pinheiros. Ao todo, áreas do Jardim Botânico serão isoladas temporariamente para a execução dessa ação.
Parte da madeira retirada será reutilizada para a construção de mesas e pergolados dentro do próprio Jardim Botânico, dando um destino sustentável ao material.
Impacto da troca no Parque da Cidade
Essa mudança no Jardim Botânico segue uma tendência observada em outras áreas de Brasília. Entre 2023 e 2024, mais de 1,6 mil pinheiros foram removidos do Parque da Cidade, onde infelizmente um dos acidentes mais graves ocorreu em 2022, quando um pinheiro caiu e atingiu um adolescente de 15 anos, que ficou tetraplégico em decorrência do acidente.
Memórias e reações do público
O Jardim Botânico é um dos principais cartões-postais de Brasília, atraindo turistas e moradores que compartilham memórias afetivas ligadas aos pinheiros. A advogada Larissa Coelho expressou sua tristeza: “Preciso correr lá para me despedir dos meus pinheiros queridos, porque eles são assim o charme daqui”, disse. Marcos Fernandes, outro frequentador do parque, complementou: “Vai deixar uma lacuna muito grande. Uma saudade.”
Enquanto muitos lamentam a troca das árvores, outros entendem a necessidade dessa mudança, visando não apenas a estética, mas também a segurança e a preservação do meio ambiente local.
A expectativa é que, com a chegada das espécies nativas, a biodiversidade do Jardim Botânico aumente e que a interação com a fauna local se fortaleça, promovendo um ecossistema mais saudável e inteiramente adaptado à região do cerrado.
As mudanças são esperadas com um misto de tristeza e esperança por parte da comunidade local, que agora se prepara para uma nova fase na história do Jardim Botânico de Brasília.