A imposição de uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos, anunciada pelo presidente americano Donald Trump, pode frear o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil neste ano. Especialistas estimam que o impacto pode chegar a 0,5 ponto percentual, influenciando na projeção de crescimento de 2% a 2,4% para 2025.
Retaliações e repercussões internacionais
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Segundo o economista André Valério, do Banco Inter, o impacto pode reduzir o PIB em até 0,5 ponto percentual, embora o Brasil seja pouco exposto ao comércio internacional. Ele explica que, apesar do efeito significativo, a baixa participação dos EUA na economia brasileira limita o impacto.
Estimativas e setores mais afetados
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, avalia que setores como aéreo, carnes e produtos de laranja, que exportam uma parte importante para os EUA, podem sentir uma redução de 0,2 a 0,3 ponto percentual no crescimento do PIB. Mesmo assim, ele mantém a projeção de 2,4% de crescimento para 2025.
Se as tarifas se mantiverem elevadas, a atividade econômica desses setores pode desacelerar ainda mais, especialmente diante do aperto na concessão de crédito por conta da política monetária restritiva, aponta Sung.
Impacto na balança comercial e riscos futuros
De acordo com o Santander, se a tarifa for implementada em agosto, o saldo comercial brasileiro pode perder US$ 9,4 bilhões em 12 meses, sendo US$ 3,9 bilhões só neste ano — uma queda de 7% em relação aos US$ 55 bilhões esperados inicialmente.
O estudo do banco ainda aponta que, com esse cenário, o superávit de 2024 já estaria em declínio após o recorde de US$ 98,8 bilhões em 2023, e o impacto da tarifa seria três vezes maior do que a ameaça de Trump de tarifas de 10% em abril passado.
Reação do governo brasileiro e possíveis medidas
O presidente Lula assinou decreto que regulamenta a Lei da Reciprocidade, buscando ações em resposta às tarifas dos EUA. Alckmin deve se reunir com representantes da indústria e do agronegócio para debater o ‘tarifaço’ de Trump.
- Redirecionamento de produção: Parte da produção destinada aos EUA pode ser direcionada ao mercado interno, ajudando a conter os preços de itens como carne, café e aço. O país também busca novos parceiros comerciais, assegura Kotinda, do Santander.
- Possíveis ajustes na política de importação: Especialistas como Claudio Considera, da FGV, alertam que o Brasil pode optar por taxar apenas produtos finais, reduzindo o impacto nos bens intermediários.
Perspectivas econômicas e riscos de volatilidade
A expectativa é que a relação cambial seja um fator-chave na resposta ao cenário de tensões comerciais. Segundo o Santander, o real precisaria se desvalorizar cerca de 5,5%, de R$ 5,40 para R$ 5,75, para compensar a perda de receita com exportações. Mesmo assim, o banco não projeta dólar acima de R$ 5,70 de forma sustentada até o fim do ano, o que limita o impacto inflacionário.
Estima-se um efeito inicial de redução de 0,10 ponto percentual no IPCA, que deve se dissipar ao longo de 2025, mantendo a inflação projetada em 5,1%. Porém, uma depreciação prolongada do câmbio pode fazer o índice subir entre 1,5 e 2 pontos percentuais, advertem analistas.
Considerações finais e incertezas à frente
Especialistas como Alessandra Ribeiro, da Tendências, apontam que o impacto total no PIB pode chegar a 0,3 ponto percentual, afetando setores mais dependentes do mercado americano, como aço e máquinas. Ela destaca que a volatilidade do câmbio e as ações de Trump criam incertezas, podendo tanto enfraquecer quanto fortalecer o dólar.
O cenário ainda é instável, com projeções que envolvem alto grau de incerteza. Segundo Kotinda, os próximos dias serão decisivos, já que as negociações e possíveis reação do Brasil podem alterar as estimativas de impacto econômico.
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