Recentemente, a Diretoria Executiva da Área de Saúde (Deas) da Unicamp divulgou um levantamento alarmante: a universidade tem uma média de 4,4 mil pessoas atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para cada leito disponível. Este cenário coloca a Unicamp em posição de maior sobrecarga entre os hospitais de clínicas do interior de São Paulo.
Desproporção entre população e leitos
Somando os recursos do Hospital de Clínicas da Unicamp e do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), o total de leitos disponíveis é de 560. Contudo, a demanda é alarmante: na região de saúde de Campinas, mais de 2,4 milhões de pessoas dependem do SUS. Essa discrepância resulta em uma média impressionante de 4.403 pacientes por leito, um número que é o dobro da média do Hospital de Clínicas de Ribeirão Preto, que é de aproximadamente 2.100.
De acordo com Luiz Carlos Zeferino, diretor executivo da Área de Saúde da Unicamp, a questão não está na estrutura física existente, mas sim na enorme desproporção entre a capacidade assistencial e a quantidade de população que depende dos serviços. “O problema não é a estrutura já montada. Nosso maior problema é a desproporção enorme entre nossa capacidade assistencial e a área de referência em que atuamos”, explicou Zeferino.
Desafios nas áreas de especialização
A situação se agrava quando se observa a especialização dos serviços. Zeferino destaca que, diferentemente de Ribeirão Preto, que se beneficia com a proximidade do Hospital de Câncer de Barretos—que recebe uma parte significativa dos pacientes oncológicos—, a Unicamp se vê forçada a atender grande demanda nessa área. “O único serviço que atende especificamente câncer na nossa região é o Boldrini, que só aceita crianças. Não há atendimento para adultos, então somos o hospital que mais trata pacientes com esse tipo de doença”, afirmou Zeferino.
Além da oncologia, outras especialidades como cardiologia e ortopedia também enfrentam longas filas de espera. Por exemplo, muitos pacientes aguardam por cirurgias cardíacas e procedimentos de colocação de próteses. O resultado disso? A Unidade de Emergência Referenciada da Unicamp está sobrecarregada. Pacientes graves muitas vezes precisam ficar em macas, aguardando a liberação de leitos para internas.
Impacto da superlotação
A superlotação se tornou uma norma, e Zeferino menciona um cenário preocupante: “Aqui na Unicamp, se habituou a ter entre 50 e mais de 100 pacientes internados em macas por falta de leitos adequados. Isso é péssimo. Se tivéssemos mais 100 leitos, eles seriam usados para tirar os pacientes das macas e levá-los para as camas”, afirma ele.
A rede de saúde em Campinas, que inclui outros hospitais e unidades de atendimento, ainda não consegue atender a essa demanda crescente. Com uma população superior a 1 milhão de habitantes, 50% dela depende exclusivamente do SUS. “Acredito que o cenário da nossa saúde é complexo e desafiador para os próximos anos”, alerta Zeferino.
Perspectivas de solução
Para lidar com essa sobrecarga, soluções rápidas, como a abertura de novos leitos, não são suficientes. Infelizmente, muitos dos leitos disponíveis permanecem fechados, e sua reabertura sem uma análise detalhada pode não resolver a questão. O diretor menciona que a eficiência do sistema de saúde não se resume apenas à quantidade de leitos, mas à qualidade do atendimento e resolutividade dos casos. “Quando você tem uma pneumonia que poderia ser tratada em casa, mas acaba hospitalizado, isso gera um conflito no sistema”, explica.
Recentemente, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), anunciou planos para construir um novo hospital na região, que terá capacidade para até 400 leitos. Zeferino expressa otimismo cauteloso em relação a essa notícia, destacando que o novo hospital precisa se especializar em casos de alta complexidade, como câncer e cirurgias cardíacas, para realmente impactar a qualidade do atendimento na região.
Se o novo hospital conseguir alinhar sua atuação com as necessidades locais, poderá ser um passo significativo para mudar a realidade dos pacientes da Unicamp e toda a região de Campinas.
Contudo, é evidente que a luta contra a superlotação e a busca por melhorias no sistema de saúde pública exigem esforços conjuntos e estratégias bem definidas para garantir o bem-estar da população que depende do SUS.