Após a eleição de Javier Milei, a Argentina registra um crescimento significativo nas vendas de automóveis, imóveis e uma alta no turismo, mas o consumo das classes mais pobres continua em declínio. O país vive um cenário de contraste entre avanços econômicos e dificuldades para as camadas mais vulneráveis.
Reforma de Milei impulsiona setores de luxo e turismo
Nos últimos meses, as vendas de automóveis na Argentina cresceram 78% no primeiro semestre, atingindo o melhor desempenho dos últimos sete anos, segundo a Associação de Concessionárias de Automotores da República Argentina (ACARA). Blas Morales, vendedor em San Andrés de Giles, declarou à AFP que junho foi excelente e que as vendas triplicaram nos últimos seis meses.
Além disso, houve uma retomada na compra e venda de imóveis, com aumento de 22% em maio em Buenos Aires. Apesar do crescimento, apenas um quarto dos solicitantes de hipotecas conseguiu comprovar estabilidade financeira, refletindo a fragilidade do mercado de crédito para as camadas médias e baixas.
Economia de Milei: avanços e desafios sociais
O governo de Milei conseguiu reduzir a inflação de 117% em 2024 para 1,6% em junho, além de alcançar um superávit fiscal. Contudo, essas conquistas tiveram custo elevado: a desvalorização do peso, cortes de subsídios e aumento nos preços de moradia, saúde e educação, dificultando o acesso a esses serviços para grande parte da população.
Enquanto setores de alta renda impulsionam o consumo de bens duráveis, nove em cada dez lares enfrentam dívidas e 12,8% estão inadimplentes, segundo estudos recentes. O mercado de trabalho precário e o endividamento dificultam a recuperação do consumo de massa.
Contraste no turismo e na qualidade de vida
Com o peso valorizado em relação ao dólar, argentinos que viajam ao exterior se beneficiam, enquanto o turismo interno sofre queda. Entre janeiro e abril, cerca de 6 milhões de argentinos viajaram ao exterior — 70% a mais que no mesmo período de 2024 — enquanto o número de estrangeiros que visitaram o país sofreu uma redução de 21%, atingindo seu menor patamar na última década.
Desigualdade e impacto na classe média
Apesar dos avanços, a festa do consumo é restrita a uma parcela pequena da população, com apenas 6% pertencendo à classe alta. Enquanto isso, 50% da população vive com renda inferior a US$ 960 por mês, e a classe média, que outrora foi o principal motor do consumo, enfrenta dificuldades devido aos aumentos nos impostos, na tarifa de energia e na inflação de itens essenciais.
Segundo o estudo da consultoria Moiguer, a recuperação após a recessão de -1,8% em 2024 não beneficia igualmente todos os setores, agravando as desigualdades existentes. Metade da população não consegue fechar o mês sem dívidas, e muitos adiam ou cancelam despesas essenciais, pagando a conta com crédito, o que reforça o ciclo de vulnerabilidade econômica.
Perspectivas para o futuro
Analistas alertam que o crescimento chegou a um teto devido à estagnação do poder de compra, enquanto o aumento do dólar prejudica o turismo interno. Os comerciantes, por outro lado, esperam que os ajustes econômicos se consolidem, embora a recuperação do consumo das camadas mais pobres ainda seja incerta.