O arcebispo católico de Homs, Jacques Mourad, fez um apelo urgente pelo futuro dos cristãos na Síria, frente a uma situação marcada por violência, pobreza e nanção de instituições. Em entrevista, Mourad, que foi sequestrado pelo ISIS em 2015 e conseguiu escapar após cinco meses de cativeiro, expressou preocupação com o presente do país, afirmando que “hoje, a Síria deixou de existir como país”.
Desafios e esperança para a Igreja na Síria
Apesar das dificuldades, Mourad afirmou que a esperança permanece viva: “Jesus quer sua Igreja na Síria. E essa ideia de esvaziar a Síria de cristãos certamente não é vontade de Deus”. Ele ressaltou que, após a queda do regime de Bashar al-Assad em dezembro de 2024, a violência se intensificou, e a crise humanitária continua devastando o povo sírio.
O arcebispo lembrou do aumento nos conflitos em cidades-chave como Idlib, Aleppo e Damasco, onde há ataques direcionados, massacres e desaparecimentos. Mourad também lamentou a recente violência registrada na Igreja de Santo Elias, em Damasco, onde cristãos ortodoxos celebravam a liturgia e foram alvo de ataque, além da abdução de dois episcopais ortodoxos ocorrida em 2013, até hoje sem resgate.
A situação humanitária na Síria
Segundo Mourad, a condição do povo sírio é extremamente grave: “Uma grande parte da população vive abaixo da linha da pobreza; estamos massacrados, humilhados e exaustos”. Ele reforçou a necessidade de apoio político sincero, afirmando que “sem isso, estamos condenados”.
Apesar do cenário desolador, o arcebispo destacou o papel da Igreja como fonte de esperança: “A Igreja é o único ponto de referência de esperança para todo o povo sírio, não apenas para os cristãos. Fazemos tudo para apoiar nossa gente”.
Diálogo entre comunidades e reconstrução do país
Mourad defendeu a importância do diálogo entre comunidades religiosas e étnicas, como alauítas, sunitas e cristãos, para promover a paz. “Em Homs, incentivamos encontros com todas as comunidades. Todos se preocupam com as políticas do governo, incluindo muçulmanos”, afirmou.
Na visão do arcebispo, a reconstrução do país deve envolver a Igreja em áreas essenciais, como escolas, hospitais e centros culturais. “Precisamos fortalecer centros pastorais e culturais, habitantes que possam apoiar o crescimento humano e cultural dos jovens, além de casas de acolhimento para quem deseja casar”, explicou. Mourad acredita que, embora os recursos sejam escassos, “o horizonte é claro: essa é a vontade de Jesus”.
Perspectivas de paz e futuro
Quanto a um possível acordo de paz com Israel, Mourad afirmou que “quase toda a população síria deseja a paz, inclusive com Israel, porque todos estão cansados da guerra. Mas, se um entendimento for firmado agora, será apenas por fraqueza do país, o que seria uma humilhação”.
O arcebispo reforçou que a Igreja deve permanecer firme na esperança e na missão: “Jesus quer sua Igreja na Síria. Nosso dever é proteger os fiéis e fazer tudo para garantir o futuro da Igreja neste país”.