No cenário atual, a realidade do universo dos jogos eletrônicos está mudando, e isso se reflete em um público crescente: os adultos mais velhos. Esse segmento, que frequentemente é visto como um grupo fora do alcance dos entretenimentos digitais, agora se destaca pela sua presença ativa em plataformas como Twitch e YouTube, onde compartilham suas habilidades e paixões. Afinal, jogar não é apenas uma diversão, mas também uma forma de conexão social e mental para essa faixa etária.
Os benefícios do gaming para os mais velhos
A história de Michelle Statham, uma jogadora de 60 anos que se apresenta com o apelido de “TacticalGramma” no Twitch, é um exemplo perfeito disso. Com mais de 110 mil seguidores, ela passa cerca de seis horas por dia jogando e transmitindo suas partidas. O jogo escolhido? Call of Duty, que, apesar de sua popularidade entre jovens, demonstra que a paixão por jogos não tem idade.
Statham fala sobre os desafios e alegrias que os jogos oferecem. “Quando consigo um ótimo tiro de sniper ou derrubo alguém de um helicóptero, isso é pura diversão”, comenta. Além de entretenimento, esse hobby se tornou uma fonte de renda e uma maneira de se manter emocionalmente conectada com outras pessoas através do streaming.
Impacto social e cognitivo dos jogos
A crescente participação dos mais velhos no mundo dos games não é meramente uma questão de entretenimento; está ligada a diversos benefícios sociais e cognitivos. A Entertainment Software Association revelou que cerca de 57 milhões de americanos acima dos 50 anos jogam, representando 28% da população gamer nos Estados Unidos. Mais surpreendente ainda é que quase a metade dos americanos entre 60 e 70 anos se dedica a jogos eletrônicos semanalmente.
A Dra. Kris Alexander, especialista em design de jogos, afirma que os jogos podem ser uma ótima forma de terapia e socialização para os mais velhos. As plataformas multijogadores, onde as interações acontecem em tempo real, oferecem um estímulo social valioso. “A comunicação que ocorre enquanto jogam online é uma forma de estímulo real, algo que não deve ser ignorado, mesmo com os possíveis riscos para a saúde relacionados a certas atividades de jogos”, diz a especialista.
Além disso, há pesquisas que sugerem que jogos específicos, como os de quebra-cabeça e os de aventura, podem melhorar a memória e o processamento cognitivo em todas as idades. Os jogos criados para estimular habilidades cognitivas, como os desenvolvidos pela BrainHQ e aplicativos como Lumosity, são exemplos de como a ciência está se integrando ao entretenimento para o enriquecimento mental dos jogadores.
Desafios e superações no mundo dos games
Embora os benefícios sejam evidentes, o caminho não está isento de desafios. Condições comuns como dor nas articulações e declínio da visão podem dificultar a participação dos jogadores mais velhos. Para isso, adaptadores e novas tecnologias estão começando a fazer parte das soluções para tornar a experiência mais acessível. Por exemplo, Will, um ex-militar de 72 anos que transmite seus jogos para 1,4 milhão de seguidores no YouTube, utiliza um dispositivo de controle adaptativo que facilita o uso, mesmo após complicações de saúde anteriores.
Will observa que, apesar de sua idade e limitações físicas, ele quer ser um exemplo para outros idosos: “Se eu consigo fazer isso com uma deficiência, você também pode.” Sua mensagem é clara: nunca é tarde demais para recomeçar, seja nos jogos ou na vida.
Além do entretenimento: o jogo como ferramenta terapêutica
Os jogos eletrônicos também têm sido usados como ferramentas terapêuticas. Estudos demonstram que jogos como Tetris podem ajudar a reduzir os sintomas de PTSD se jogados em um intervalo de até 48 horas após um evento traumático. Além disso, imersões em realidades virtuais têm mostrado que podem aliviar a dor em pacientes de queimaduras, demonstrando o potencial dos jogos além do simples entretenimento.
Esse novo panorama do gaming mostra a diversidade e a profundidade das experiências compartilhadas por jogadores de todas as idades, especialmente aqueles que estão na terceira idade. Enquanto as empresas de jogos se adaptam e inovam para atender a esse público crescente, a memória social e os laços que se formam durante as partidas ajudam a combater a solidão e a promover um envelhecimento mais saudável e humano.
Assim, a mensagem final é clara: os jogos podem ser uma ponte que une gerações, e para muitos idosos, eles representam uma nova forma de se manter ativo, social e envolvido com o mundo ao seu redor.
