O ex-volante da seleção brasileira e campeão do mundo em 2002, Gilberto Silva, é uma das figuras destacadas no novo grupo de estudos técnicos montado pela FIFA. Recém-saído da primeira edição da Copa do Mundo de Clubes nos Estados Unidos, Silva teve a oportunidade de observar de perto as nuances do futebol atual, os desafios enfrentados pelos clubes sul-americanos e o impacto da competição na valorização do futebol nacional. Em entrevista ao GLOBO, o agora estudioso do esporte compartilha suas impressões.
Estilos de jogo e competição
Durante a Copa do Mundo de Clubes, diferentes estratégias e estilos de jogo foram exibidos, cada um tentando garantir a vitória de sua forma. “Vimos diferentes estilos. Cada time com seu estilo e buscando encontrar a melhor forma de vencer. Não existe uma fórmula única. Há times que têm estilo de ficar com a bola e pressionar, há times que são mais defensivos”, comentou Silva.
A percepção do Brasil no cenário mundial
Gilberto Silva enfatizou a importância de uma liga forte no Brasil para potenciar a qualidade do futebol. Ele expressou sua preocupação com a qualidade das ligas brasileiras, considerando que, se todos os talentos que jogam fora do país estivessem jogando no Brasil, a situação seria bem diferente. “O ideal é que tivéssemos uma liga forte. Imagina se a quantidade de brasileiros que estão aqui, jogando em outras ligas, estivesse jogando na nossa liga”, disse.
A realidade dos clubes sul-americanos, segundo Silva, também é impactada pela força econômica dos clubes europeus, que atraem talentos por ter uma moeda forte e uma liga consolidada. “Temos uma moeda fraca. E os jogadores têm aquela questão… O futebol europeu criou um produto muito forte”, afirmou. Ele destacou a necessidade de valorizar o futebol brasileiro, que ainda não é visto como “de primeira prateleira” em escala global.
Desafios estruturais do futebol brasileiro
Dentre as questões levantadas, o ex-jogador destacou o calendário julho de 2023. “O Flamengo disputou 77 jogos nos últimos 12 meses. Os quatro clubes brasileiros jogaram em média 70 jogos, enquanto os europeus jogam cerca de 55”, expôs. Silva ressaltou que a carga excessiva de jogos limita o tempo disponível para treinamentos e aprimoramento técnico.
Oportunidades a partir do Mundial de Clubes
Apesar das dificuldades, Gilberto Silva é otimista em relação ao impacto positivo da Copa do Mundo de Clubes. Ele acredita que a competição oferece uma excelente oportunidade para clubes e jogadores se conectarem e revelarem talentos que permanecem fora do circuito tradicional. “É importante. É uma forma de integrar, conhecer o que está sendo feito nos lugares. Saber que, por mais que a Europa seja uma potência, não é o único lugar que tem bom futebol”, afirmou.
Além disso, o ex-jogador vê a competição como um passo fundamental para encontrar talentos em regiões menos exploradas. “O mercado interno europeu é muito caro. Mas você vem aqui em uma competição como essa e visualiza um jogador que é uma oportunidade para o clube que vai fazer a aquisição”, disse Silva. Ele acredita que isso deve abrir oportunamente as portas do clube para o mundo.
A evolução dos técnicos brasileiros
Gilberto também elogiou a evolução dos técnicos brasileiros, observando que as quatro equipes que participaram do Mundial mostraram um trabalho sólido e bem estruturado. “Totalmente. Cada uma com seu estilo, mostraram excelentes trabalhos”, comentou. Ele reconheceu que o padrão de idade dos times europeus é tipicamente mais jovem, o que pode impactar no estilo de jogo. “A conversa aqui tem sido muito positiva, com respeito ao trabalho que os brasileiros têm feito”, finalizou.
Com isso, Gilberto Silva não apenas expôs os desafios do futebol brasileiro, mas também as possibilidades de crescimento e valorização no cenário global. A transformação do futebol nacional passa por diversos aspectos, e a valorização do talento local é fundamental para reverter a percepção mundial.