O bispo Scott McCaig, da Ordinária Militar Católica de Canadá, compartilhou suas impressões após liderar uma semana de retiro espiritual para padres militares na Ucrânia, em Lviv, de 13 a 20 de junho de 2025. A experiência deixou marcas profundas na sua visão sobre o papel da fé diante do conflito armado.
Missão de apoio espiritual aos padres de guerra na Ucrânia
Durante o retiro, McCaig e o padre Terry Cherwick, coronel da 3ª Divisão Canadense, caminharam ao lado de aproximadamente 40 padres militares que enfrentam há mais de três anos as durezas do front, oferecendo suporte espiritual para enfrentarem as batalhas invisíveis de fé, esperança e caridade sob a invasão russa. A iniciativa contou com o apoio do bispo Wiesław Lechowicz, bispo militar da Polônia.
O bispo canadense ressaltou a gravidade da situação enfrentada pelos profissionais da pastoral militar. “Eles lidam diariamente com a dor da perda, funerais e o peso psicológico de uma guerra que muitos não desejariam vivenciar. O que nos impressiona é a força do espírito de resistência e a busca por significado, mesmo nas circunstâncias mais difíceis”, afirmou McCaig.
Encourajamento na esperança teológica
Ao abordar os padres, McCaig destacou a importância de manter a esperança baseada na fé cristã. “Falamos sobre a luta de fé diante de tantas mortes e incertezas, e sobre como Jesus Cristo venceu a morte, conforme o Livro de Apocalipse. É preciso lembrar que a última palavra não é a morte, mas a ressurreição”, explicou.
Durante as atividades, que incluíram confissões, liturgias e momentos de reflexão individual, o bispo enfatizou que a esperança teológica é diferente do otimismo superficial. “Deus trabalha mesmo em um mundo marcado por pecado e sofrimento. A nossa tarefa é confiar no poder de Jesus, que é o Alpha e o Omega, e que detém as chaves da morte e do Hades”, afirmou.
Resiliência, perdão e o papel do clero na guerra
Outro ponto abordado por McCaig foi a importância do perdão e da superação do mal através do bem. “Um soldado cristão luta por uma paz justa e duradoura, guiado pelo amor e pela misericórdia. Deus não deseja a vingança, mas a reconciliação”, destacou, citando Santo Agostinho.
Apesar do cotidiano marcado por sirenes de ataques aéreos, o bispo reforçou a necessidade da resiliência espiritual. “A fé no Cristo ressuscitado é o que dá força para enfrentar o horror da guerra, pois ela nos conecta ao mais profundo significado de nossa resistência”, afirmou.
Reflexões e lições para o Canadá
De volta ao Canadá, McCaig expressou esperança de que sua experiência sirva de alerta para a Igreja local. “Precisamos valorizar a importância da resiliência espiritual no ministério militar, que vai além de aconselhamento superficial. É fundamental que nossos padres cultivem uma relação profunda com Jesus Cristo, quem oferece a verdadeira força em momentos de crise”, afirmou.
Ele também destacou a necessidade de orar pelos ucranianos, chamados pelo Papa Francisco e pelo Papa Leo XIV como “o martyred Ukraine”, pedindo que a comunidade global não se esqueça do sofrimento do povo ucraniano. “A oração é uma forma poderosa de apoio, especialmente através do rosário”, concluiu McCaig.
Esta reportagem foi originalmente publicada pelo The Catholic Register no Canadá e reproduzida aqui com autorização.