Nesta sexta-feira (12), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliou a possibilidade de negociar com os EUA diante da ameaça de Trump de aplicar sobretaxas de 50% sobre produtos brasileiros, enquanto o ex-presidente Donald Trump declarou que pode conversar com Lula, mas “não agora”. A declaração acontece um dia após Lula denunciar intenções de retaliação caso a medida seja implementada em agosto.
Reação de Trump e o mercado financeiro
Antes de embarcar para o Texas, Trump reforçou que pode retomar conversas com o Brasil, mas deixou a decisão em aberto. A ofensiva tarifária do ex-presidente norte-americano provocou turbulência no mercado, com o dólar atingindo R$ 5,592 na máxima do dia, alta de mais de 2% na semana, antes de recuar após sinalizações de possível diálogo. Segundo analistas, Trump pode estar adotando o padrão conhecido como “Taco Trade”, uma estratégia de causar choque inicial para depois recuar, tentando desgastar a moeda americana.
Perspectivas de resistência econômica brasileira
Especialistas afirmam que o Brasil tende a resistir às tarifas, pois sua economia é relativamente fechada e depende mais da China do que dos EUA. Gestores de fundos como Aberdeen e Franklin Templeton destacaram que a dependência das exportações norte-americanas é baixa, representando apenas 2% do PIB, com predominância de commodities como petróleo, ferro, café e carne bovina.
Reação diplomática e novas alianças
A China criticou duramente as ameaças de Trump, reforçando que tarifas não devem ser usadas como ferramenta de coerção ou intervenção política, princípio defendido na ONU. Além disso, o governo brasileiro trabalha na formação de um comitê de empresários liderado por Alckmin, que buscará respostas às tarifas, priorizando setores de agronegócio, indústria e tecnologia, incluindo a fabricante de aviões Embraer.
Impactos comerciais e cenário internacional
Entre janeiro e junho, o Brasil apresentou um superávit de quase US$ 12 bilhões na relação comercial com a China, seu principal parceiro, enquanto obteve um déficit de US$ 1,7 bilhão com os EUA, aumento de 500% em relação ao mesmo período do ano passado, conforme o “Monitor do Comércio Brasil-EUA”. As exportações brasileiras para os EUA cresceram 4,4% no primeiro semestre, atingindo US$ 20 bilhões, com destaque para carne bovina e sucos de frutas.
Segundo analistas, o momento requer cautela, mas a resistência do Brasil ao impacto das tarifas ainda é considerada viável devido à estrutura econômica e à diversificação de mercados. “Acreditamos que o pragmatismo deve prevalecer, e qualquer correção profunda no mercado pode criar oportunidades de compra de ativos brasileiros”, afirmou Thierry Larose, gestor da Vontobel.
Próximos passos e contexto internacional
O governo brasileiro não pretende envolver outros países na disputa, focando em resolver a crise sozinho. O ministro da Fazenda, com apoio de Alckmin, elaborará medidas de resposta, incluindo ações no âmbito diplomático e econômico. A expectativa é que o comitê de empresários seja formalizado na próxima semana, com reuniões envolvendo setores do agronegócio, indústria e tecnologia.
Enquanto isso, o debate internacional reforça o papel de Washington e Pequim no cenário global, com a China reiterando que tarifas representam uma prática coercitiva que viola princípios de soberania, segundo a porta-voz Mao Ning. O episódio ressalta o clima de tensão que deve seguir nos próximos dias, com impacto potencial no mercado financeiro e na relação entre Brasil, EUA e China.
Fonte: O Globo