Após o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, analistas destacam que o Brasil tende a se aproximar ainda mais da China. Interlocutores do governo brasileiro avaliam que essa política tarifária reforça os laços políticos com Pequim e pode impulsionar o setor privado nacional a buscar novas parcerias internacionais, incluindo a China.
Impacto das tarifas de Trump na relação comercial Brasil-China
Dados do primeiro semestre deste ano revelam que o Brasil mantém relação superavitária com a China, com exportações quase US$ 12 bilhões maiores do que as importações. Enquanto isso, as trocas comerciais com os EUA apresentam um déficit de US$ 1,7 bilhão. A maior presença da China na pauta brasileira acontece na compra de commodities como soja e minério de ferro, enquanto a relação com os EUA envolve principalmente produtos industrializados, carnes, café e petróleo.
Após a sobretaxa, o governo brasileiro não possui informações concretas sobre novas negociações com os EUA para evitar o aumento de tarifas. Desde que as medidas americanas foram anunciadas, não houve avanços nos diálogos para um acordo que possa proteger as exportações brasileiras de aço e alumínio, tributados em 25%, ou outros bens sujeitos a taxas adicionais de 10%, segundo fontes do Ministério das Relações Exteriores.
Reação da China e perspectivas para a relação bilateral
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, manifestou apoio ao Brasil na disputa com os EUA. Ela criticou a sobretaxa de 50% e afirmou que “tarifas não devem se tornar ferramentas de coerção, intimidação ou interferência nos assuntos internos de outros países”.
Para especialistas, a aposta do Brasil na aproximação com a China é uma estratégia de diversificação de parceiros diante do cenário de tensão com os EUA. “A relação Brasil-China deve se fortalecer, principalmente na venda de commodities, mas será necessário convencer Pequim a ampliar compras de manufaturados brasileiros”, avalia Roberto Santos, pesquisador do Instituto de Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Contexto político e possíveis reações do Brasil
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vê as ações de Trump como movidas por interesses políticos, especialmente no contexto eleitoral de 2026. O presidente americano vem criticando o ex-presidente Jair Bolsonaro e acusando o Supremo Tribunal Federal do Brasil de persegui-lo, além de ameaçar sanções ao ministro do STF, Alexandre de Moraes.
Se o acordo com os EUA não for retomado, o Brasil pretende recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC). Contudo, o órgão encontra-se praticamente paralisado há cerca de cinco anos, devido a um boicote dos EUA durante o mandato de Trump. Como alternativa, o país pode adotar medidas retaliatórias, como a cassação de patentes ou o aumento de tributos sobre bens culturais e obras americanas, aguardando a vigoração da nova sobretaxa, prevista para 1º de agosto.
Consequências econômicas e expectativas futuras
O cenário de tensões elevou o dólar frente ao real, impactando o mercado financeiro e contribuindo para a queda do Ibovespa. Especialistas alertam que, sem um acordo, o Brasil pode sofrer prejuízos econômicos e perder espaço no comércio internacional, reforçando sua relação histórica com a China.
O aprofundamento dos vínculos com Pequim e a deterioração do diálogo com Washington podem redefinir o posicionamento estratégico do Brasil no cenário global, obrigando o país a buscar alternativas diplomáticas e comerciais para minimizar os efeitos dessas tensões internacionais.