Ainda sob o impacto da recente anunciada tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, empresários e consumidores em ambos os países enfrentam desafios. A medida, tomada pelo presidente Donald Trump, visa motivos ideológicos, mas traz riscos de prejuízos e aumento de custos no Brasil e nos Estados Unidos.
Impactos para o Brasil no setor exportador e na economia
Exportadores brasileiros de petróleo, aço, café e carne bovina sentem-se diretamente ameaçados por essa tarifa. Segundo análises, as exportações de carne e café, principais produtos vendidos pelos brasileiros aos norte-americanos, podem sofrer forte retração ou se tornarem inviáveis.
“Se as tarifas forem efetivamente aplicadas, o Brasil perderá espaço em um dos maiores mercados do mundo”, afirma o economista Daniel Sousa, da GloboNews. O setor de carne já sinaliza que, sem negociações, as vendas para os EUA ficarão inviáveis, levando as empresas a buscar outros destinos, como o Ásia.
Reação do mercado financeiro e inflação
O mercado financeiro reagiu negativamente ao anúncio, com forte alta do dólar, o que preocupa o Banco Central. “Se o dólar permanecer elevado, a inflação se mantém e os juros, atualmente em 15%, podem continuar altos, desacelerando a economia”, explica Robson Gonçalves, da FGV.
O aumento do dólar encarece as importações, pressionando a inflação. As altas podem forçar o Banco Central a manter juros elevados para conter a demanda e evitar maior escalada de preços.
Consequências para o consumidor americano e preços de produtos
Nos Estados Unidos, a tarifa deve encarecer itens importantes, como café, suco de laranja e carne bovina. O Brasil é responsável por cerca de um terço do café consumido no país, além de ser o maior produtor mundial, com exportações anuais que chegam a 8 milhões de sacas.
“Embora os americanos procurem outros fornecedores, o mercado externo não consegue suprir toda a demanda pelo café, que já está caro internacionalmente”, avalia Gonçalves. Os preços dos alimentos, principalmente o café, tendem a subir nos EUA, impactando diretamente o consumidor final.
Dados comerciais e possíveis efeitos a longo prazo
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com vendas de US$ 40,33 bilhões em 2024, porém mantêm déficit desde 2009, ou seja, compram mais do que vendem.
Segundo Daniel Sousa, a tarifa pode prejudicar significativamente a presença brasileira no mercado americano, limitando a exportação de carnes, aeronaves, petróleo, aço, materiais de construção, máquinas e eletrônicos. Além disso, o aumento de tarifas sobre aço e alumínio já impacta o setor siderúrgico brasileiro.
Reação do mercado e possíveis mudanças
Para os Estados Unidos, a sobretaxa pode impactar preços ao consumidor, especialmente em setores dependentes de produtos brasileiros. No entanto, o impacto direto na economia americana é relativamente limitado, dado o volume das importações brasileiras.
Especialistas assinalam que, diante de tarifas elevadas, os EUA podem fortalecer alianças comerciais com outros blocos econômicos, potencialmente prejudicando ainda mais o relacionamento bilateral.
Perspectivas e estratégias de diversificação
O Brasil tenta diversificar seus destinos de exportação, negociando acordos como o Mercosul–EFTA e com a União Europeia. Contudo, para produtos como o café, essa mudança não é suficiente para substituir completamente o mercado norte-americano, podendo resultar em queda nos preços domésticos e aumento da oferta interna.
Os próximos meses serão decisivos para verificar se a política tarifária de Trump se consolidará e quais serão suas consequências para as relações comerciais e econômicas entre Brasil e Estados Unidos.