Brasil, 11 de julho de 2025
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Tarifa de 50% dos EUA desafia exportações brasileiras e abre espaço para a China

Tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelos EUA pode impulsionar a China como destino alternativo, mas com limites por diferenças comerciais

A ameaça de imposição de uma tarifa de 50% pelo governo americano sobre os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, anunciada pelo presidente Joe Biden, provoca reflexos na estrutura das exportações do Brasil. A medida, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, afeta uma lista diversificada de produtos, de petróleo a aviões, e pode abrir uma janela para a China ampliar sua participação na pauta de exportações brasileiras.

Impactos da tarifa de 50% na economia brasileira

Especialistas avaliam que, apesar de representar uma das maiores tarifas impostas por Donald Trump a países exportadores, seu efeito negativo para o Brasil deve ser relativamente pequeno. O Nobel de Economia Paul Krugman afirmou que as exportações brasileiras para os EUA correspondem a menos de 2% do PIB nacional, o que limita o impacto geral da medida, estimado em cerca de 0,1% de retração para o PIB em 2026, segundo Felipe Camargo, da Oxford Economics.

No entanto, setores com forte presença no mercado americano, como o de aviões, autopeças e suco de laranja, poderão sentir efeitos mais intensos, especialmente se as negociações não resultarem em um acordo ou na suspensão das tarifas. A questão passa a ser: o Brasil pode redirecionar suas exportações para a China?

Chances de redirecionar exportações para a China

Apesar de ambos serem os maiores parceiros comerciais do Brasil, a viabilidade de ampliar as vendas para a China é limitada devido às diferenças no perfil de exportações. Livio Ribeiro, do Ibre/FGV, explica que o Brasil exporta uma vasta gama de produtos manufaturados para os EUA, incluindo bens finais como aviões e insumos de cadeia de produção. Já a pauta para a China é altamente concentrada em commodities.

Entre janeiro e junho, 40% dos US$ 47,7 bilhões que o Brasil vendeu para a China foram soja, seguidos por petróleo (19%) e minério de ferro (17%), revela levantamento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). Assim, produtos como petróleo, carne bovina e minério de ferro, já exportados a ambos os mercados, podem eventualmente ser redirecionados à China, em caso de impedimento no mercado americano.

Limitantes e estratégias possíveis

Guilherme Klein, da Universidade de Leeds, comenta que há excesso de oferta mundial de minério de ferro, o que reduziria os preços de venda mesmo com um possível redirecionamento. Além disso, a estratégia da China poderia envolver a absorção de parte desse excedente por motivos estratégicos, para fortalecer sua relação comercial com o Brasil, embora o cenário seja de alta imprevisibilidade devido às variáveis geopolíticas e à volatilidade das medidas de Trump.

Lula declarou em 10 de julho que tentaria negociar com Washington, mas que, na falta de acordo, o Brasil aplicaria uma retaliação de tarifa de 50% sobre produtos americanos. Ainda não há confirmação se isenções específicas, como petróleo e minério de ferro, serão mantidas, embora a expectativa seja que alguns produtos fiquem de fora dessas tarifas.

Setores mais afetados e possíveis reações

O setor de suco de laranja, responsável por 41,7% das exportações brasileiras aos EUA, tem alerta máximo. A CitrusBR afirmou que a cumulatividade de tarifas e sobretaxas já existentes tornaria inviável a manutenção de vendas aos americanos, podendo provocar desorganização na cadeia produtiva e aumento da insatisfação na Europa, principal destino atual do produto.

Produtos industrializados, como autopeças e itens de alta tecnologia, como aviões, também podem ser duramente atingidos. A Embraer, por exemplo, vê cerca de 60% de sua receita na América do Norte, a maior parte exposta às tarifas. Incentivos aos setores de transporte e eletrônicos, como a Weg, podem sofrer retração de receita e impacto em margens de lucro.

Contexto político e econômico por trás das tarifas

Embora a justificativa econômica de Trump seja o déficit comercial dos EUA, a balança com o Brasil é superavitária, com US$ 283,8 milhões em 2022 e US$ 1,67 bilhão entre janeiro e junho deste ano. Analistas veem a tarifa como uma ação de cunho político, relacionada, por exemplo, à acusação feita por Trump de perseguição a Bolsonaro e às restrições às redes sociais, que Lula classificou como intervenção na soberania brasileira.

Guilherme Klein destaca que a imposição de tarifas pode representar uma interferência política disfarçada de prática econômica, dificultando previsões precisas sobre os desdobramentos. A possibilidade de retaliações brasileiras reforça o cenário de incerteza, que só será esclarecido com as negociações e eventual suspensão das tarifas por parte dos EUA.

Assim, a maior questão do momento permanece: até que ponto a crise tarifária poderá modificar a dinâmica do comércio exterior do Brasil, especialmente em produtos sensíveis como carnes, commodities e bens industriais?

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