O fenômeno das tendências virais nas redes sociais tem transformado radicalmente nossos hábitos de consumo, levando a escassezes e impactos ambientais que muitas vezes desconhecemos. Desde o aumento na demanda por matcha até o boom no consumo de abacate e pistache, a influência das plataformas digitais está esgotando recursos naturais e alterando mercados internacionais.
Matcha: do deleite ao risco de escassez global
O mercado de matcha, que deve atingir US$ 5 bilhões até 2028, vive uma crise de abastecimento impulsionada pela forte demanda mundial. Em 2023, a produção de matcha no Japão triplicou em relação a 2010, chegando a 4.176 toneladas, segundo o Ministério de Agricultura do país.
Apesar do aumento na produção, a preferência por matcha de alta qualidade, especialmente na cidade de Uji, famosa por seu chá, tem levado à desvalorização do método tradicional de cultivo — que exige sombra para melhorar o sabor e aroma do chá. As fazendas estão tendo que sacrificar qualidade por quantidade, prejudicando uma tradição milenar
, explica Tomomi Hisaki, gerente de loja em Uji.
Impacto ambiental e econômico da demanda por alimentos virais
Outros ingredientes, como abacate e pistache, também enfrentam o impacto de seu sucesso repentino. Na Colômbia, crescimento das plantações de abacate substituiu plantios de café, agravando problemas ambientais, incluindo desmatamento e uso exacerbado de recursos hídricos. Segundo Al Jazeera, 12 litros de água são utilizados para produzir um único amendoim, e a demanda crescente por esses alimentos expõe uma cadeia de custos ambientais ocultos.
No mercado internacional, a produção de pistache também aumentou devido a tendências como o chocolate recheado com creme de pistache popular em plataformas como o TikTok. Essa demanda elevou o preço do ingrediente de US$ 7 para US$ 10 por libra, impactando fabricantes e consumidores.
O papel das redes sociais na alteração dos hábitos de consumo
Vídeos viralizáveis, como receitas de matcha, saladas de pepino ou molhos de maionese, incrementam a pressão sobre a produção de ingredientes específicos. Segundo a BBC, o aumento do interesse pelo matcha no Japão levou ao esgotamento de estoques, mesmo em localidades tradicionais. Cada curtida e compartilhamento reforçam a demanda, muitas vezes sem considerar as consequências
, afirma especialista na área.
Consequências e reflexões
Apesar de satisfazer os desejos momentâneos por alimentos exclusivos e saudáveis, essa cultura do consumo impulsivo traz riscos severos ao meio ambiente e à economia global. O aumento na extração de recursos, uso de energia e emissão de gases poluentes aumentam significativamente a pegada ecológica de nossa alimentação.
O alerta é claro: o ritmo insustentável das nossas tendências digitais tem um custo alto para o planeta. Precisamos repensar a forma como consumimos e valorizarmos práticas mais conscientes e sustentáveis na nossa rotina diária.
Óbvio, o impacto social e ambiental das redes sociais exige uma reflexão coletiva — parar para pensar se a busca pelo ‘produto viral’ vale os danos que ele provoca é essencial para um futuro mais equilibrado.