Interlocutores do governo brasileiro veem com cautela a declaração de que Donald Trump pode conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embora não haja confirmação oficial. Diplomatas ouvidos pelo GLOBO avaliam que, devido ao histórico de Trump de recuar em negociações anteriores, a possibilidade de um blefe é forte, o que mantém o cenário de incerteza nas relações bilaterais.
Desenvolvimento das negociações entre Brasil e EUA
Em entrevista antes de embarcar para o Texas, Trump voltou a defender o ex-presidente Jair Bolsonaro, mas afirmou que pode falar com Lula: “Talvez eu fale com o Lula em algum momento. Vamos ver o que acontece”, declarou, sem dar detalhes. Essa afirmação ocorre um dia após Lula afirmar ao Jornal Nacional que não teria problema em estabelecer diálogo com Trump, caso haja necessidade.
Posições de Trump e Lula sobre diálogo bilateral
Na mesma entrevista, Lula ressaltou que, sempre que necessário, não hesitaria em ligar para Trump, assim como já fez com outros ex-presidentes americanos. “Na hora que houver necessidade de conversar com o Trump, eu não terei problema. Agora, é preciso ter uma razão para ligar, pois dois presidentes não fazem ligações de rotina”, explicou.
Enquanto isso, integrantes do governo brasileiro observam que as declarações de Trump podem refletir uma estratégia de blefe. O mercado, por sua vez, monitora as negociações e possíveis instruções da equipe do Escritório de Comércio da Casa Branca (USTR), que desde março mantém negociações com o Brasil relativas a tarifas de importação.
Controvérsia sobre tarifas e tensões comerciais
Desde o anúncio da sobretaxa de 50% a diversos produtos brasileiros, técnicos dos dois países discutem uma solução para a tarifa de 25% sobre aço e alumínio, além de uma sobretaxa de 10% sobre compras brasileiras. O governo Lula entende que o Brasil recebe um tratamento diferenciado, com intervenção política inédita na relação bilateral.
Segundo fontes do governo, Trump pode estar blefando ao dizer que a sobretaxa de 50% entrará em vigor a partir de 1º de agosto, sobretudo após a forte reação negativa que a medida provocou dentro do próprio setor bolsonarista.
Resposta brasileira e possíveis retaliações
O governo brasileiro tem sinalizado que pode reforçar ações de retaliação, incluindo medidas relacionadas à propriedade intelectual e direitos autorais, como patentes de medicamentos, música e cinema americanos, com potencial impacto nos interesses dos EUA. Essas estratégias elevam o grau de tensão na relação.
Repercussões diplomáticas e cenário político
Nesta sexta-feira, o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, reuniu-se com Gabriel Escobar, encarregado de negócios da embaixada dos EUA em Brasília, para discutir a tarifa de 50%. Freitas destacou a importância do diálogo com as empresas paulistas e criticou a narrativa de que a responsabilidade é somente do governo.
A embaixada americana afirmou que diplomatas “se reúnem regularmente com governadores brasileiros” e destacou que São Paulo é o estado com maior concentração de investimentos americanos no Brasil. Ainda assim, alguns diplomatas acreditam que a presença de Freitas na embaixada teria sido uma tentativa de amenizar os efeitos da crise provocada pelas ações do governo federal.
Perspectivas e próximos passos
Analistas indicam que o governo brasileiro continuará monitorando de perto a evolução das negociações, especialmente na expectativa de instruções específicas da Casa Branca. A possibilidade de intensificação da retaliação ou de uma flexão nas negociações dependerá, em grande parte, do comportamento de Trump e da resposta dos EUA às ações brasileiras.
O cenário permanece de alta tensão, com ambos os lados sinalizando disposição para o diálogo, mas mantendo uma postura de cautela e possível blefe, o que reforça a imprevisibilidade das próximas semanas na relação bilateral.