O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, publicou nesta quinta-feira uma carta aberta para justificar oficialmente o descumprimento da meta de inflação. A medida ocorreu após o IPCA acumulado em 12 meses atingir 5,35% em junho, ultrapassando o teto da meta, de 4,5%, pelo sexto mês consecutivo.
Razões para o desvio da meta de inflação
Na carta, Galípolo atribui o aumento da inflação a uma combinação de “diversos fatores”: atividade econômica aquecida, mercado de trabalho resiliente, elevada inércia inflacionária, desancoragem das expectativas e desvalorização cambial. Segundo o documento, choques nos preços de alimentos industrializados, como café e carnes, além de tarifas de energia elétrica, também contribuíram para o pressionamento do índice.
Impacto de choques econômicos e expectativas
A autoridade monetária destacou que as altas no preço da gasolina, na inflação subjacente de serviços, e nos bens industriais, como vestuário e automóveis, surpreenderam as expectativas no último trimestre. A contribuição da inflação de inércia foi de 0,69 ponto percentual, enquanto as expectativas desancoradas responderam por 0,58 p.p. e o hiato do produto, por 0,47 p.p..
Perspectivas e ações do Banco Central
O Banco Central projeta que o IPCA volte a ficar dentro da faixa de tolerância apenas no final do primeiro trimestre de 2026. A inflação acumulada em quatro trimestres deve reduzir-se para cerca de 4,2% no início do próximo ano, conforme o cenário de referência do Relatório de Política Monetária.
Galípolo reforçou que o compromisso do BC é com a meta de 3%, e que suas decisões seguem esse objetivo. “O Banco Central se manterá atento às pressões inflacionárias e não hesitará em tomar medidas adicionais, caso julgue necessário”, afirmou.
Medidas tomadas e o ciclo de juros
Para conter a alta dos preços, o Comitê de Política Monetária (Copom) vem elevando a taxa Selic de forma contínua desde setembro de 2024, alcançando 15% ao ano em junho. Apesar do esforço, Galípolo afirmou que o BC decidiu pausar o ciclo para avaliar os efeitos das elevações anteriores, sem descartar novas altas caso o cenário inflacionário piore.
Durante audiência na Câmara dos Deputados, o presidente do BC destacou: “Tenho visto que a maior parte das críticas à alta da taxa de juros está relacionada à sugestão de que a meta de inflação não deve ser cumprida. Mas ela é 3%, e o BC não vai se desviar desse objetivo”.
Compromisso com a estabilidade e a responsabilidade do BC
Galípolo reafirmou o compromisso do banco com a meta de inflação e destacou que a taxa de juros elevada tem como objetivo colocar a economia em um patamar restritivo suficiente para reduzir a inflação. “Nenhum presidente do BC tem satisfação em ver juros altos, mas essa é a ferramenta necessária para garantir a estabilidade econômica”, afirmou.
Desde 1999, a inflação ficou acima da meta oito vezes, sendo a mais recente em 2024, sob a antiga regra. O presidente do BC ainda reforçou que o órgão está atento às pressões e manterá a postura de responsabilidade econômica.
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