Brasil, 16 de julho de 2025
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A importância da prática no futebol brasileiro e a regra das dez mil horas

O estudo da prática no futebol brasileiro revela desafios e oportunidades para o futuro do esporte.

No livro “Outliers” (“Fora de série” no Brasil), de 2008, o autor Malcolm Gladwell popularizou a “regra das dez mil horas”, uma interpretação baseada em um estudo de 1993 que analisou a relação entre horas de prática e o sucesso de violinistas. Gladwell argumentou que esse número mágico de dez mil horas de treino seria o que tornaria alguém um expert em sua área. Desde então, novas pesquisas intensificaram a discussão, apresentando perspectivas que desafiam a ideia original.

A nova perspectiva sobre a prática

Em 2019, os psicólogos Brooke Macnamara e Megha Maitra revisitaram o estudo de 1993 e chegaram à conclusão de que as horas de prática têm um impacto menor do que anteriormente acreditado, representando apenas 26% da diferença entre violinistas bons e medíocres, em comparação com os 48% sugeridos por Gladwell. Assim, além da quantidade, fatores como talento inato e a qualidade da prática também ganharam destaque. Contudo, o tempo de treino continua a ser um critério crucial para se tornar um expert, o que levanta questionamentos sobre a preparação e desempenho no futebol.

O desempenho dos clubes brasileiros no Mundial

Neste contexto, a recente Copa do Mundo de Clubes de 2023 apresentou um cenário interessante para os times brasileiros, onde práticas de qualidade e experiência foram determinantes para o desempenho das equipes. O Fluminense, por exemplo, surpreendeu ao eliminar um gigante europeu, mostrando que a preparação e a estratégia de jogo podem fazer a diferença em confrontos de alto nível. A equipe, junto com o Botafogo, adotou uma abordagem cautelosa durante a fase de grupos, capitalizando os erros dos adversários e demonstrando eficácia nas transições de jogo.

A abordagem do Flamengo

Já o Flamengo, mantendo sua identidade ofensiva e apostando no volume de jogo e na imposição física, conseguiu uma virada histórica contra o Chelsea. Porém, a equipe encontrou dificuldades nas oitavas de final, sendo eliminada pelo Bayern de Munique, que rapidamente capitalizou sobre erros dos rubro-negros. O contraste entre a abordagem do Flamengo e a do Fluminense revela diferentes filosofias de jogo e suas consequências em competições internacionais.

O conceito de “erro zero” no futebol

O conceito de “erro zero” é frequentemente almejado por equipes que buscam vencer grandes clubes da Europa, mas essa expectativa pode não ser realista. Jogos perfeitos são raros, e times como o Bochum, que derrotou o Bayern de Munique, demonstram que é essencial saber lidar com as falhas. Aprender a errar e a minimizar as consequências dos erros é vital para o progresso, refletindo a importância da experiência, conforme apontado pelas pesquisas sobre os violinistas. Afinal, a diferença entre os bons e os medianos muitas vezes está na capacidade de aprender e se adaptar.

O caso do Crystal Palace

Recentemente, o Crystal Palace, que se sagrou campeão da FA Cup 2024/2025 ao vencer o Manchester City, provou que a prática contra adversários de elite também se revela fundamental. Com apenas 28,5 horas de prática contra os rivais de Manchester, o Palace conseguiu sua vitória histórica, evidenciando que mesmo as horas de prática limitadas, quando focadas e direcionadas, podem levar a resultados adversos positivos.

Construindo uma liga forte no Brasil

Considerando a diferença de nível entre os clubes brasileiros e europeus, a proposta de criar uma liga no Brasil surge como uma alternativa viável para elevar a qualidade do futebol nacional. Valorizar financeiramente o produto, padronizar os gramados e implementar uma gestão mais transparente pode ajudar os clubes a desenvolver uma base sólida e proporcionar mais desafios para os times da elite. Essa evolução não apenas aprimoraria as equipes locais, mas também prepararia o caminho para que, futuramente, jogos no Mundial deixassem de ser oportunidades únicas, sem a pressão do utópico “erro zero”.

Dessa maneira, ao fortalecer a prática e a formação em clubes nacionais, o Brasil poderá não apenas melhorar seu desempenho em competições internacionais, mas também promover um futebol mais criativo e competitivo, mantendo a coragem e a identidade que caracterizam o estilo brasileiro.

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