Na semana passada, Jen Hamilton, enfermeira com grande seguidores no TikTok e Instagram, viralizou ao usar a Bíblia para questionar a compatibilidade entre cristianismo autêntico e o apoio ao movimento “MAGA” de Donald Trump. O vídeo, que acumula mais de 8,6 milhões de visualizações, revela um profundo conflito em parte da comunidade cristã dos Estados Unidos, entre valores de Jesus e políticas do ex-presidente.
O conteúdo do vídeo de Hamilton e a reação do público
Hamilton destaca passagens de Mateus 25, enfatizando que o que se faz pelos necessitados — alimentando os famintos, visitando os presos, acolhendo os estrangeiros — é o que garante salvação. “Quando você deixou de ajudar ao pobre, foi a mim que deixou de ajudar”, cita ela, enquanto exibe manchetes de notícias sobre cortes em programas sociais, deportações e precarização do atendimento à saúde.
“Eu sou cristã e não vejo como alguém pode apoiar o movimento MAGA e, ao mesmo tempo, seguir os ensinamentos de Jesus”, afirmou a enfermeira, acrescentando que sua intenção não era fazer uma declaração política, mas moral. A resposta do público foi mista: muitos apoiaram sua leitura bíblica como uma denúncia de hipocrisia, enquanto outros criticaram ou reportaram a postagem às autoridades, questionando sua postura religiosa.
O papel do evangelicalismo na política americana
O apoio de Trump ao movemento religioso, aliado à presença de líderes evangélicos como Paula White e William Wolfe ao seu redor, reforça uma relação conflituosa dentro do cristianismo nos EUA. Muitos críticos, como o bispo episcopal Mariann Edgar Budde, alertam para o perigo de uma aliança entre religião e política que distorce os ensinamentos de Jesus para justificar políticas de exclusão, deportação e misoginia.
Pesquisas apontam que uma fatia significativa de fiéis, especialmente entre evangélicos brancos, apoiam o presidente, apesar de sua falta de participação na imagem de um cristão tradicional. Segundo dados do Pew Research, mais de 70% desses fiéis aprovam sua gestão, mesmo com o questionamento sobre sua religiosidade genuína.
O impacto na sociedade e reflexões de líderes religiosos
Especialistas e líderes religiosos de diversos espectros continuam a debater o papel do cristianismo na política. Robertson, pastor de Nova York, afirma que a estratégia da direita religiosa foi usar a fé como ferramenta de poder para manter privilégios históricos, enquanto outros pregadores de linha mais moderada convidam os fiéis a se concentrarem na mensagem de Jesus que prioriza o amor e a justiça social.
Para o reverendo Robertson, a resistência de cristãos progressistas é fundamental para um cenário mais pluralista e justo. “Existem muitos cristãos que não se identificam com esses extremos e querem viver o Evangelho de maneira autêntica”, disse.
Esperanças de uma reconexão com os ensinamentos de Jesus
Carrie McKean, escritora e líder de uma igreja no Texas, enfatiza que Jesus não veio estabelecer um reino terreno, e que seu ensinamento transcende as polarizações atuais. “Precisamos cultivar um olhar crítico sobre nossas alianças políticas e lembrar que todo poder terreno é manipulado por interesses que muitas vezes vão de encontro à vontade de Deus”, afirmou.
Hamilton, por sua vez, revela-se otimista. Ela comenta que receber mensagens de pessoas que reconsideraram suas posições, afastando-se do nacionalismo cristão, dá esperança de que a fé possa, mais uma vez, colocar Jesus no centro do debate moral e social nos Estados Unidos.
Este episódio evidencia uma fissura dentro do cristianismo norte-americano, entre uma leitura literal de Jesus e a apropriação política de sua mensagem, refletindo um momento de reflexão sobre a verdadeira essência do evangelho na sociedade contemporânea.