Silvio Mendes acaba de cometer o pecado original da saúde pública: jogou indicação política no caldeirão da Fundação Municipal de Saúde. Em vez de blindar o órgão contra o vírus da barganha partidária — como fazia Firmino Filho, que tratava a FMS como UTI livre de padrinho —, Silvio abriu a porta do CTI para os comissários eleitorais entrarem de sapato sujo.
Firmino, com todos os seus defeitos, mantinha o dogma de que na FMS, indicação política só se for para doação de sangue. Resultado? Técnicos de carreira, decisões impopulares porém necessárias, contas sem aditivo suspeito.
A população até reclamava de fila, mas não podia acusar falta de seriedade. O que faz Silvio? Pega o volante de um hospital em estado crítico e entrega ao motorista recém-credenciado pelos cartórios partidários.
Não é sobre a capacidade ou incapacidade de Leopoldina Cipriano; é sobre a mensagem: “A saúde agora tem dono, cor e legenda.” Do MDB. E talvez até o PT.
O recado chegou rápido aos corredores do HUT: quem não tiver crachá político que cuide de não tropeçar na própria máscara.
Silvio, mestre em dizer “não”, desta vez disse “sim” ao que há de pior: o toma-lá-dá-cargo. Quem sofre primeiro? O servidor antigo, que até ontem respondia a protocolos e metas. Agora vai ter que responder também a telefonema de vereador querendo leito para apadrinhado. Quem sofre depois? O contribuinte, claro — ele sempre entra na fila por último.
Firmino Filho tratava a FMS como cofre de cristal: não mexe, não toca, não racha. Silvio transformou em baú de piratas, onde cada facção vai catar sua parte no tesouro do SUS municipal. Ironia sombria: o médico e técnico agora injeta politicagem direto na veia do paciente.
Eis o diagnóstico: se o prefeito não estancar imediatamente esse sangramento de confiança, a imagem de gestor técnico — que o elegeu — entra em falência múltipla. Fila dobra, superlotação vira manchete, e o sonho de transformar Teresina em referência de saúde afunda na mesa de negociações partidárias.
Firmino sabia que politizar a FMS é assinar atestado de óbito da credibilidade. Silvio Mendes, que jurava seguir o manual do antecessor, rasgou a página mais importante.
O histórico de Silvio Mendes o credibiliza para mais um voto, mesmo diante da clara indicação política: o de confiança. Mas de todo modo vamos rezar para que que Deus salve os pacientes — porque, a partir de agora, o bisturi está nas mãos da politicagem. “Livrai-nos do mal, amém!”.