O recente anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, causou uma onda de debates acalorados nas redes sociais, refletindo a polarização política no Brasil. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus aliados culpam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela deterioração das relações com os EUA, enquanto os bolsonaristas argumentam que a atual administração adota uma política externa ideológica, prejudicando os interesses comerciais do país.
Reação nas redes sociais
A tensão gerada pela notícia refletiu-se em mais de um milhão de publicações em português, registradas entre a tarde de quarta-feira e a manhã de quinta-feira, conforme levantamento da consultoria Arquimedes, solicitado pelo GLOBO. Entre as menções, 54,5% foram geradas por perfis governistas, que tentaram blindar Lula e transferir a responsabilidade pela nova tarifa a Bolsonaro, enfatizando os supostos danos causados à imagem internacional do Brasil durante sua gestão. Por outro lado, os opositores geraram 45,5% das publicações, associando a medida a um isolamento diplomático promovido pela atual administração.
A postura do governo e da oposição
A estratégia do governo Lula tem sido enfatizar que a taxação proposta por Trump é uma consequência do enfraquecimento da diplomacia brasileira durante o governo Bolsonaro. Os aliados de Lula defendem que a gestão atual está se esforçando para recuperar o prestígio internacional do Brasil e reagir firmemente ao protecionismo dos EUA. Em um de seus posts mais criticados, que acumulou mais de 84 mil retuítes, o presidente Lula manifestou suas preocupações a respeito das tarifas e do impacto que elas podem ter nas relações bilaterais.
Críticas à atual gestão
A oposição, representada especialmente por figuras como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou que o desgaste atual nas relações com os EUA é uma consequência direta da condução diplomática de Lula. De acordo com Tarcísio, o presidente tem colocado “a ideologia acima da economia”, e essa linha crítica reverberou nas redes sociais, com sua publicação sendo compartilhada mais de 9 mil vezes e gerando 83,7 mil menções em 24 horas. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também se manifestou, acusando tanto Tarcísio quanto Bolsonaro de “aplaudirem” a taxação, o que gerou uma nova onda de reações adversas.
Impactos políticos e discussão sobre a soberania
Para Pedro Bruzzi, pesquisador da Arquimedes, o governo Lula procura transformar esta crise internacional em um ativo político, posicionando-se como defensor da soberania e da economia nacional. “A tentativa do governo é ocupar o centro da narrativa, se colocando contra o protecionismo norte-americano”, afirma Bruzzi. Ele observa que, até o momento, essa estratégia parece ter dado resultados, permitindo que o governo avançasse na disputa simbólica, enquanto a oposição se dividiu entre ataques ideológicos e justificativas.
O futuro político e o teste de posicionamento
Embora o impacto econômico das novas tarifas ainda esteja sendo avaliado, as repercussões políticas já são visíveis. Com as eleições de 2026 se aproximando, tanto a reação de Lula quanto a de Tarcísio ao tarifaço de Trump é vista como um teste de posicionamento para ambos os lados. Enquanto aliados do governador tentam posicioná-lo como herdeiro do legado de Bolsonaro, interlocutores do Palácio do Planalto buscam reforçar a imagem de Lula como estadista, buscando reverter os desgastes sofridos nos últimos meses.
O debate aberto pela imposição de tarifas americanas não apenas levanta questões urgentíssimas sobre política externa e relações comerciais, mas também revela a profundidade da divisão política brasileira, transformando uma questão econômica em uma arena de batalha ideológica nas redes sociais.