O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman (MBS) vê na estabilidade regional uma oportunidade de ampliar a influência da Arábia Saudita, buscando liderar o Oriente Médio além de seus esforços econômicos e militares.
A atuação de MBS na guerra de Gaza e o cenário regional
Durante o recente conflito entre Israel, EUA e Irã, Riad adotou uma postura de equilíbrio, condenando publicamente os ataques de Israel enquanto incentivava o diálogo e a contenção. MBS, que evitou se envolver diretamente, jogou um jogo diplomático cuidadoso para manter sua influência, ao mesmo tempo em que protege seus interesses estratégicos.
Segundo analistas, essa postura passiva, mas habilidosa, mantém a Arábia Saudita como um ator central sem expor o reino a riscos elevados. Como comentou Karen Elliott House, especialista em assuntos sauditas, “MBS usou sua habilidade de jogar nos bastidores para fortalecer sua posição, mas para liderar de fato, precisará de uma presença mais visível na arena internacional”.
Desafios econômicos e a busca por investimentos estrangeiros
Apesar das ambições grandiosas de transformar a economia saudita com projetos de alta tecnologia, como Neom e The Line, o país enfrenta dificuldades na atração de investimentos estrangeiros. Em 2024, o investimento externo foi de US$ 20,7 bilhões, abaixo da meta de US$ 29 bilhões e muito distante do objetivo de US$ 100 bilhões anuais até 2030.
O conflito no Gaza, iniciado em outubro de 2023, agravou a situação, reduzindo o interesse de investidores internacionais. Empresas como Amazon Web Services, Oracle e Microsoft investiram conjuntamente cerca de US$ 9 bilhões, uma fração do que ainda é necessário para impulsionar os planos de MBS.
Perspectivas de normalização com Israel e impacto na região
Uma das estratégias de MBS para atrair maior fluxo de capitais é estabelecer relações diplomáticas com Israel, o que ampliaria as possibilidades de cooperação tecnológica e de investimentos. Tal aproximação também facilitaria uma infraestrutura de conexão entre Ásia e Europa, promovendo o conceito de uma “arteira de oportunidades” do príncipe.
Entretanto, o avanço nessa agenda ficou temporariamente travado pela guerra em Gaza. Com o enfraquecimento do Irã, a tendência é que a questão de reconhecer Israel avance, especialmente com o apoio do presidente Donald Trump, que mantém uma postura pró-saudita.
O papel do Irã e o futuro da paz na região
A postura do Irã de usar o conflito Israel-Palestina como uma ferramenta de pressão, apoiando grupos como Hamas e dificultando a normalização das relações na região, deve diminuir após sua derrota na guerra de Gaza. Assim, a possibilidade de um avanço na política de paz promovida por MBS se torna mais plausível.
Especialistas ponderam que, para consolidar sua liderança, Riad precisará transformar sua influência indireta em uma presença diplomática e econômica mais assertiva. Com interesses estratégicos e econômicos alinhados, a Arábia Saudita busca ser a protagonista de uma nova etapa de estabilidade e prosperidade no Oriente Médio.