O padre Salvador Aguado Miguel, da Espanha, revelou um momento de profunda depressão que enfrentou há cinco anos, próximo ao limite do suicídio. A declaração foi feita após o suicídio do padre italiano Matteo Balzano, ocorrido na última semana, evento que chocou a Igreja Católica na Itália.
A importância de cuidar da saúde mental no sacerdócio
Durante entrevista à CNA, o sacerdote falou sobre sua experiência de crises emocionais e destacou que “não somos super-heróis”. Ele explicou que, muitas vezes, os padres não percebem a pressão que impõem a si mesmos ou a cobrança por “estar sempre disponível”.
Aguado enfatizou que buscar ajuda psicológica, especialmente de um profissional, é fundamental. “Não há vergonha nisso; pelo contrário, é um ato de coragem e de amor próprio”, afirmou o padre.
O perigo da idealização do papel do padre
O sacerdote criticou a ideia de que o padre deve sempre ser forte e inabalável, o que acaba contribuindo para o sofrimento silencioso de muitos deles. “Somos humanos, temos nossas fragilidades, e reconhecer isso é um passo importante para a saúde mental”, ressaltou.
Ele também destacou que a pressão para corresponder ao “modelo ideal” de sacerdote pode levar ao esgotamento. “Precisamos de momentos de lazer, de conversar com colegas, de cuidar de nossa espiritualidade de uma forma equilibrada”, aconselhou Aguado.
O auxílio de profissionais e a força da fé
Ao falar sobre sua experiência com psicólogo, Aguado destacou que a presença de uma pessoa profundamente católica fez toda a diferença. “Durante as sessões, trabalhávamos a Bíblia, o que me ajudou a entender que Jesus também sofreu e que minha fragilidade não diminui minha fé”, refletiu.
Ele encorajou outros padres a se abrirem e a não terem receio de pedir ajuda, lembrando que “não somos feitos de ferro, mas de carne e sangue”. Além de buscar suporte psicológico, também é importante confiar na proximidade de Deus e na comunidade de fé.
O que podemos aprender com essa experiência
Aguado afirmou que as tragédias, como a de Balzano, podem marcar um ponto de reflexão para toda a Igreja. “Deus sempre tira uma lição do mal e do sofrimento”, disse, recordando sua própria jornada de superação. Ele encontrou na evangelização digital uma forma de colaborar na missão da Igreja e de fortalecer sua fé.
Propostas para uma formação mais holística nos seminários
Para prevenir dificuldades futuras, o padre sugeriu maior ênfase na formação em saúde mental durante os anos de estudo nos seminários. “Recebemos bastante formação em espiritualidade e teologia, mas ainda precisamos de um espaço dedicado ao cuidado emocional”, afirmou.
Ele também defendeu a criação de equipes de apoio psicológico nas dioceses, para que padres possam buscar ajuda sem medo ou vergonha, especialmente nos momentos de crise.
Mensagem de esperança e recursos disponíveis
Aguado concluiu reforçando que procurar ajuda é um gesto de coragem e de amor à vida. Ele deixou um recado para padres e fiéis: “Aceitem sua fragilidade, perdoem-se e busquem apoio. O Senhor sempre transforma o mal em uma oportunidade de crescimento.”
Para quem enfrenta dificuldades emocionais, a Igreja Católica oferece suporte espiritual, espaços de oração e aconselhamento. Além disso, existem linhas de apoio e serviços de saúde mental disponíveis, como o telefone nacional de prevenção ao suicídio 988.
Este relato foi originalmente publicado pela ACI Prensa, parceiro de notícias em espanhol da CNA, e adaptado para esta matéria.