Brasil, 11 de julho de 2025
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O impacto das tendências virais na escassez global de alimentos

A crescente viralização de alimentos nas redes sociais está gerando shortage de ingredientes como matcha, pistache e abacate, afetando economia e meio ambiente.

O fenômeno das tendências virais nas redes sociais está transformando o cenário do consumo global, levando a escassez de ingredientes essenciais e alterações na produção agrícola. Desde o final de 2023, conteúdos que destacam alimentos como matcha, abacate e pistache tornaram-se virais, impulsionando aumentos abruptos na demanda e, consequentemente, na pressão sobre as cadeias produtivas. Esta situação evidencia como o comportamento de consumo, influenciado por tendências efêmeras, pode ter consequências socioeconômicas e ambientais profundas.

A explosão do consumo de matcha e suas consequências

A popularidade do matcha nas redes sociais elevou sua demanda mundial. Segundo o Ministério da Agricultura do Japão, a produção em 2023 atingiu 4.176 toneladas, um aumento de três vezes em relação a 2010. Isso ocorre sobretudo devido ao crescimento de vídeos que mostram receitas e benefícios do produto, como o famoso latte de matcha. Apesar da alta procura, a produção não consegue acompanhar o ritmo, levando ao esgotamento e ao aumento dos preços.

Tomomi Hisaki, gerente da loja Tsujirihei em Uji, afirmou que a produção de matcha de alta qualidade, utilizado em cerimônias tradicionais, é limitada pela necessidade de cultivo sob sombra, que reduz a quantidade de folhas disponíveis. “O cultivo de chá para matcha cerimonial é rigidamente ligado a técnicas específicas, o que torna a produção limitada”, explicou.

O efeito dominó na produção de outros alimentos

Além do matcha, outros ingredientes também sofrem com a demanda exacerbada gerada por tendências virais. O pistache, por exemplo, ficou em escassez após o boom causado por doces e chocolates de luxo em Dubai, resultando em aumento de preços de US$ 7 para US$ 10 a libra. Segundo Charles Andrieu, da Prestat Group, a surpresa com a demanda mostra o impacto inesperado dessas tendências.

Do mesmo modo, o abacate, promovido nas redes sociais pela sua suposta propriedade saudável, levou agricultores colombianos a migrar de plantações de café para o cultivo da fruta, muitas vezes fora das condições ideais. Essa expansão desordenada tem causado uso excessivo de recursos naturais, como água, causando desmatamento e contaminação de rios, além de agravar os efeitos das mudanças climáticas.

O papel das redes sociais na crise alimentar

O aumento do turismo e a popularidade de destinos como Uji, conhecido pela produção do melhor matcha no Japão, também contribuíram para a escassez. Em 2024, o país recebeu um recorde de 37 milhões de turistas, atraídos pelo interesse no produto. Contudo, a alta demanda levou às vendas esgotadas mesmo em lojas tradicionais, obrigando agricultores a priorizar a quantidade em detrimento da qualidade.

Criadores de conteúdo, como Logan Moffitt, ajudaram a popularizar receitas virais, provocando um aumento no consumo e na pressão sobre fornecedores locais. Assim, hábitos de consumo impulsionados por tendências efêmeras acabam alimentando um ciclo de escassez crescente.

Impactos ambientais e econômicos que poucos percebem

Esse fenômeno revela uma relação perigosa entre o crescimento do consumo e os danos ambientais. Culturas fora do clima ideal, uso excessivo de água na produção de alimentos como amêndoas e soja, além de práticas agrícolas pouco sustentáveis, ameaçam recursos essenciais. Segundo uma análise na revista Al Jazeera, a exploração desordenada e o crescimento acelerado para atender às tendências resultam em degradação ambiental e altos custos sociais.

Além do impacto ecológico, a crise também afeta os agricultores, que enfrentam dificuldades financeiras e devem investir em máquinas e processos caros para acompanhar as mudanças de demanda. Isso evidencia a necessidade de uma reflexão coletiva sobre nossa relação com as tendências virais e o verdadeiro valor dos alimentos.

Reflexões finais e o papel da sociedade

À medida que as mudanças climáticas e os preços sobem, é fundamental questionar se a busca por alimentos de moda realmente vale a pena. A cultura do consumo rápido, impulsionada pelas redes sociais, parece alimentar um ciclo vicioso de escassezas e prejuízos ambientais. Nosso papel, como consumidores, deve ser mais consciente, sem permitir que as tendências efêmeras comprometam o equilíbrio do planeta.

Reflitamos: uma taça de matcha ou um abacate na torrada valem o impacto ambiental que geramos? Talvez o melhor caminho seja valorizar práticas agrícolas sustentáveis e consumir com moderação, priorizando qualidade e responsabilidade.

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