O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) identifica uma rara oportunidade para se reaproximar politicamente dos setores produtivos da economia brasileira, em especial aqueles que se alinharam ao bolsonarismo nos últimos anos. Recentemente, a taxação de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 9 de julho, foi considerada por interlocutores do Planalto como um “presente” para o Executivo, que almeja reviver a “era de ouro” nas relações com o empresariado.
A resposta à taxa de Trump: reaproximação ou antagonismo?
Interlocutores na esfera governamental acreditam que nem o agronegócio nem os grandes empreendedores aceitarão passivamente essa imposição. O clima atual é de retaliação, visto que a taxação feita por Trump é uma resposta política ao inquérito que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) enfrenta no Supremo Tribunal Federal (STF). Em um raro fenômeno de unificação, frentes parlamentares que tradicionalmente se opõem a Lula expressaram descontentamento com a decisão dos EUA e, em tom de pedido, buscaram apoio do governo petista.
De acordo com assessores de Lula, existe um espaço fértil para a retomada do que se considera o auge das relações entre o governo e o empresariado. Nos governos anteriores de Lula, o Partido dos Trabalhadores (PT) conseguiu desenvolver um diálogo profícuo com os setores econômicos. Agora, diante do alerta de que uma volta de forças da direita ao poder poderia significar a primazia da ideologia sobre os interesses comerciais do Brasil, o governo vê uma chance de se reescrever essa narrativa.
Tarifas de Trump: interesses e implicações
Agressividade no comércio internacional
Donald Trump, desde seu mandato, tem ameaçado várias nações com a imposição de tarifas pesadas. Sua atenção ao grupo dos BRICS, especialmente ao Brasil, reflete uma estratégia de pressão sobre países que desafiam os interesses comerciais dos EUA. Antes do anuncio da nova tarifa, Trump já havia expressado em diversas ocasiões que o Brasil não estava “sendo bom” para os Estados Unidos, sugerindo que outros tipos de retaliações poderiam ser tomadas se o governo brasileiro não cedesse a algumas das demandas comerciais do país norte-americano.
Em resposta, Lula assegurou que a atuação brasileira nesta questão será pautada pela Lei de Reciprocidade Econômica, indicando que o Brasil também está preparado para responder às medidas impopulares vindas de Washington. Ao comentar sobre a tarifa, Trump sugeriu que poderia reconsiderar a medida, caso o Brasil abrisse seus mercados e eliminasse barreiras comerciais.
Ação de Eduardo Bolsonaro e os impactos
O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL) desempenhou um papel crucial nesse episódio. Desde fevereiro, ele se encontra nos EUA articulando sanções governamentais contra o Brasil. A esquerda brasileira observa esse movimento com preocupação, pois mesmo que Eduardo se fortaleça em seu nicho mais bolsonarista, apoiar medidas que prejudicam a economia brasileira pode prejudicar sua trajetória política enquanto candidato para 2026.
Auxiliares de Lula veem, igualmente, uma oportunidade de desgastar a imagem do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O governador, que é visto como uma promessa para a corrida presidencial, elogiou o discurso de Trump em relação às instituições brasileiras, e sua postura tem sido analisada com preocupação.
Setores produtivos se posicionam contra a taxação
O descontentamento, no entanto, não vem apenas da oposição. O deputado Joaquim Passarinho (PA), presidente da Frente Parlamentar do Empreendedorismo, criticou a taxação como prejudicial à economia, afirmando que essa atitude do presidente Trump não afetará somente o Brasil, mas também os interesses americanos. Ele destacou a necessidade de um interlocutor mais eficaz entre o governo brasileiro e a administração dos EUA para evitar tais imposições.
Outro ator relevante, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), expressou preocupação com as possíveis consequências da medida. O comunicado divulgado pelo grupo, que representa uma expressiva quantidade de deputados e senadores, sublinha que a nova tarifa tem implicações diretas sobre o agronegócio brasileiro, afetando a competitividade e o câmbio.
Por fim, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) também se pronunciou, caracterizando a imposição de tarifas pela administração Trump como inesperada e sem fundamento econômico que a justifique. As reações adversas aos anúncios feitos não apenas revelam a fragilidade da relação comercial entre os países, mas também destacam um momento crucial para o governo Lula na busca de fortalecer seus laços com a classe empresarial e promover um diálogo produtivo que beneficie a economia brasileira.
Fica, portanto, a expectativa sobre como o cenário se desenvolverá e qual será a resposta do governo brasileiro às crescentes tensões comerciais.