Brasil, 11 de julho de 2025
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Estudo do Ipea aponta perda de R$ 200 bilhões por ambiguidades na cobrança de impostos

Pesquisas do Ipea revelam que discrepâncias nas regras tributárias causam grande perda na arrecadação do país, reforçando debate sobre reforma tributária

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que o Brasil deixa de arrecadar mais de R$ 200 bilhões por ano devido a discrepâncias nas normas de cobrança de impostos. Enquanto o governo enfrenta debates no Congresso e no Supremo sobre aumentar arrecadação e justiça tributária, a pesquisa detalha ineficiências resultantes da estrutura tributária atual.

Iniquidades e ineficiências do sistema tributário

O documento Ineficiências e Iniquidades do Imposto de Renda: Da Agenda Negligenciada para a Próxima Etapa da Reforma Tributária, elaborado pelo pesquisador Sérgio Wulff Gobetti, destaca que as injustiças nas regras de cobrança prejudicam a eficiência econômica e dificultam a implementação de uma tributação mais progressiva, em que os mais ricos paguem mais proporcionalmente.

Segundo Gobetti, “iniquidades perpetuadas” geram perdas na arrecadação, além de comprometer o princípio da progressividade, cuja essência é o pagamento maior por parte dos contribuintes de maior renda. O estudo, disponível no site do Ipea, reforça a necessidade de avançar na discussão sobre justiça tributária enquanto tramita na Câmara dos Deputados o projeto de lei que propõe isentar do Imposto de Renda quem recebe até R$ 5 mil.

Discrepâncias na carga tributária e regimes de tributação

Uma das principais críticas apresentadas pelo estudo é a diferença entre os regimes de tributação das empresas, como o Simples, lucro presumido e lucro real. Enquanto o Simples Nacional e o lucro presumido buscam facilitar o pagamento de impostos para pequenas empresas por meio de sistemas simplificados, Gobetti aponta que essas diferenças criam injustiças.

“Houve desvirtuamento do propósito de simplificação, beneficiando menos o empreendedor que investe e assume riscos, e mais aquele que lucra mais sem investir proporcionalmente”, explica o pesquisador. Além disso, empresas muitas vezes buscam brechas para reduzir artificialmente seus lucros, como forma de pagar menos impostos.

Gobetti destaca que a média de presunção do lucro utilizada atualmente é de 15,8%, enquanto a efetiva, observada pela Receita Federal, foi de 30,4% entre 2015 e 2019. Essa distorção resulta em uma renúncia de receita que, em 2019, totalizou mais de R$ 200 bilhões, divididos entre R$ 87,7 bilhões do Simples e R$ 115,9 bilhões do lucro presumido.

Propostas de reforma e melhorias

O pesquisador sugere que o país retome a vocação original do sistema tributário, buscando simplificação sem criar privilégios injustificados. “Quanto mais tratamentos favorecidos houver, maior será a alíquota do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) sobre os bens não beneficiados, para manter a arrecadação”, afirma Gobetti.

Outro ponto importante é a tributação dos dividendos — atualmente isentos no Brasil — que, se implementada, aumentaria a progressividade do sistema de imposto de renda, fortalecendo o ambiente de negócios e atraindo investidores estrangeiros. Gobetti alerta, porém, para o cuidado na implementação, para evitar meios de distribuição de recursos pelo uso de juros sobre capital próprio, que também representam perda de receita.

Concentração de renda e setor petrolífero

O estudo também reforça que a concentração de renda vem crescendo, com o 1% mais rico captando uma fatia maior do total da renda nacional. Gobetti aponta que, desde 2017, a renda do 1% mais rico aumentou de 20,5% para 24,4%, majoritariamente pelos mais ricos de 0,1%.

A proposta adicional do estudo é tributar, de forma extraordinária, os lucros obtidos por empresas do setor petrolífero, especialmente quando os preços internacionais do petróleo ultrapassam a média histórica de US$ 70 por barril. Gobetti estima que, em momentos de alta, essa cobrança poderia gerar até R$ 40 bilhões ao ano para o governo.

Perspectivas futuras

O estudo reforça a importância de avançar na reforma tributária com foco na justiça fiscal, eficiência e combate às desigualdades. Gobetti conclui que uma estrutura mais equitativa e menos fragmentada poderia aumentar a arrecadação, reduzir a evasão e promover maior equilíbrio social.

O debate sobre as mudanças no sistema tributário brasileiro segue intenso, com diferentes propostas em tramitação no Congresso e no STF, buscando assegurar que o país possa arrecadar de forma mais justa e eficiente.

Para mais detalhes, acesse o estudo completo do Ipea.

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