O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) destacou, no Plano da Operação Energética (PEN) divulgado nesta terça-feira (18), que o Brasil corre risco de apagões devido à degradação da capacidade de atendimento à demanda de energia elétrica no horário de pico. Entre as alternativas, o retorno do horário de verão é considerado “imprescindível” para garantir o equilíbrio do sistema.
Desafios de curto prazo e o papel do horário de verão
O documento aponta que, com o aumento da oferta de energia solar, o sistema enfrenta dificuldades de suprimento no início da noite, especialmente a partir de outubro de 2025. O horário de verão, que foi suspenso em 2019 pelo governo Bolsonaro, seria uma estratégia para ampliar o aproveitamento da luz natural e reduzir a necessidade de acionamento de usinas térmicas mais caras e poluentes.
Segundo o PEN, há uma necessidade urgente de preparar o sistema para elevados volumes de despacho de térmicas no segundo semestre de 2025, além da contratação de capacidade de reserva de energia por meio de leilões, cuja realização foi cancelada devido a questionamentos judiciais. Sem esses recursos, a reserva operativa, que armazena energia nas hidrelétricas, será fundamental para o controle da frequência do sistema.
Perspectivas de crescimento e os desafios técnicos
A geração de energia no Brasil vem crescendo, impulsionada principalmente por fontes intermitentes como energia eólica, solar e a mini e microgeração distribuída (MMGD). Entretanto, esses últimos dois tipos de geração produzem pouca energia durante o período noturno, o que aumenta a complexidade operacional.
Natália Moura de Oliveira, analista de energia da ABRACE, explica que o aumento dessas fontes renováveis traz desafios técnicos ao operador do sistema. “A partir das 18 horas, por exemplo, quando o sol se põe, o sistema precisa substituir essa geração por outra fonte, geralmente térmica, que é mais poluente e mais cara”, afirma.
O papel das termelétricas e impacto no consumidor
Embora mais poluentes e onerosas, as termelétricas continuam essenciais para garantir o suprimento de energia, principalmente na ponta do sistema. A especialista reforça que o uso dessas usinas depende da necessidade de atender à demanda de pico e que seu custo e impacto ambiental ainda representam um desafio.
Quanto ao impacto no bolso do consumidor, ela avalia que ainda é cedo para estimar os efeitos, já que dependerá do volume de despacho de térmicas necessárias para equilibrar o sistema, além de outros recursos utilizados pelo operador, como a reserva operativa e a resposta voluntária de grandes consumidores.
Alternativas e o futuro do sistema energético brasileiro
Além da utilização de térmicas e da reserva operativa, o PEN aponta que o horário de verão pode ser uma alternativa viável para melhorar o aproveitamento da energia solar e evitar apagões. A decisão final sobre a adoção do horário de verão será do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dependendo das projeções de atendimento nos próximos meses.
Segundo o documento, essa estratégia poderia antecipar o pico de consumo residencial, que começa a se intensificar após as 18 horas, aproveitando melhor a geração solar, especialmente no início da noite. A medida, contudo, será avaliada com base no cenário energético do país nos próximos meses, para garantir a segurança do sistema no médio e longo prazos.