A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgou nesta quinta-feira uma nota criticando a sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros, medida anunciada na quarta pelo presidente Donald Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a CNA, a ação prejudica as economias de ambos os países e deve afetar o comércio de bens e serviços, além de gerar prejuízos a empresas e consumidores.
Reação da CNA e argumentos contra a medida dos EUA
Na nota, a CNA ressaltou que a medida é “unilateral e injustificada”, destacando que as relações comerciais entre Brasil e EUA sempre se desenvolveram em clima de cooperação e de equilíbrio, respeitando princípios do livre comércio internacional. “Esta medida não se justifica pelo histórico das relações comerciais entre os dois países, que sempre foram pautadas pelo diálogo e pela busca de interesses comuns”, afirma a entidade.
A confederação também pontuou que a sobretaxa prejudica especialmente o setor agrícola brasileiro, responsável por produtos como soja, algodão, carne bovina e café, que têm forte presença no mercado norte-americano. Segundo dados recentes, as vendas do Brasil aos EUA superaram US$ 40 bilhões no ano passado e ambos os setores rivalizam na exportação de diversos produtos agrícolas.
Críticas ao justificado político da medida
O governo americano justifica a sobretaxa com motivos políticos, principalmente relacionados ao tratamento dado pelo Judiciário ao ex-presidente Jair Bolsonaro e às empresas de tecnologia dos Estados Unidos. Para a CNA, essa justificativa é infundada e prejudica a relação comercial, potencializando a disputa por mercado e prejudicando as empresas de ambos os países.
Além da CNA, o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP) manifestou sua “profunda preocupação” com a situação, reforçando que a justificativa de desequilíbrio na balança comercial não procede. Segundo o CIESP, apenas na última década, o superávit dos EUA em relação ao Brasil no comércio de bens foi de US$ 91,6 bilhões, e o superávit total de US$ 256,9 bilhões, considerando também o comércio de serviços.
Impactos na indústria e nos setores exportadores
Os setores mais afetados pela medida incluem siderurgia, aviação, óleo combustível, petróleo, carne bovina e produtos eletrônicos. Empresas de setores como a indústria elétrica e eletrônica alertam que a medida pode impactar significativamente as exportações brasileiras, especialmente de equipamentos e componentes de grande porte, essenciais para o crescimento do mercado de veículos elétricos no Brasil.
A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) também criticou a decisão, destacando os possíveis impactos negativos nas exportações do setor. “A medida não só prejudica as vendas externas de equipamentos elétricos, como também interfere nos investimentos internos para infraestrutura de recarga de veículos elétricos”, afirma nota da entidade.
Perspectivas e possíveis desdobramentos
Especialistas afirmam que o conflito deve intensificar a necessidade de diálogo entre os governos para evitar danos maiores ao comércio bilateral. Ainda não há uma previsão de revogação da medida ou de negociações formais para sua revisão, o que reforça a preocupação do setor produtivo brasileiro.
Para o analista econômico João Pereira, o momento exige cautela e uma postura diplomática firme: “As relações comerciais multilaterais dependem do equilíbrio e da compreensão mútua. Reações unilaterais comprometem toda a cadeia produtiva e podem gerar retaliações que dificultam a retomada do crescimento”.
O impacto completo da sobretaxa ainda será avaliado nos próximos meses, mas a expectativa do setor é de forte impacto negativo na balança comercial e na economia brasileira, além de potencialmente prejudicar a estabilidade de setores estratégicos.