Brasil, 10 de julho de 2025
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Uma trabalhadora sexual reage a “Anora”: entenda sua perspectiva

Ao acompanhar as discussões sobre o filme “Anora”, dirigido por Sean Baker e estrelado por Mikey Madison, uma trabalhadora sexual de 25 anos, Emma*, decidiu compartilhar sua visão autêntica. O longa, vencedor de cinco Oscars, retrata a vida de uma stripper que se casa com um herdeiro russo, despertando diversas opiniões dentro da comunidade de profissionais do sexo.

Precisão nas cenas iniciais e a frustração com a narrativa

Emma comentou que muitas cenas do clube, especialmente nos primeiros minutos, lhe pareceram realistas. “Quando assisti, me senti como se estivesse no trabalho, o que provavelmente mostra a precisão da representação”, ela explica. No entanto, ela se desiludiu ao perceber algumas distorções, principalmente na cena em que Ani pergunta a Vanya se ele quer fazer sexo novamente após já terem pago pelo serviço.

“No meu ambiente e entre minhas colegas, nunca aconteceríamos de continuar uma relação sexual, pois já fomos pagas por isso”, afirma. A trabalhadora destaca que a dinâmica e o respeito entre profissionais do sexo envolvem limites claros, que o filme não refletiu.

Reação à celebração pelo casamento e a estigmatização das profissionais

Emma demonstrou irritação ao ver as mulheres comemorando a novidade do noivado de Ani, questionando a naturalidade dessa postura. “Nenhuma delas falaria algo como, ‘Você deveria confiar nesse rapaz que não sustenta a si próprio’. Em minha experiência, as profissionais não desejam depender de ninguém, preferem garantir sua independência financeira”, afirma.

Além disso, ela criticou a imagem da personagem como uma garota malvada, dizendo que esse tipo de comportamento não é sustentado na indústria de sexuação e que, na verdade, o que mantém as profissionais no setor é a inteligência e a solidariedade entre elas.

A construção da personagem e as expectativas de fantasia masculina

Emma apontou que, ao assistir o filme, ela achou estranho a representação de Ani como uma mulher excessivamente sexualizada após o casamento. “Parece um sonho dos homens, onde ela vive uma fantasia de sexo constante. Na realidade, nossa persona sexual é um esforço de atuação, que acaba assim que deixamos o trabalho”, explica.

Ela ressaltou que, se Ani realmente estivesse continuando a exercer sua profissão no relacionamento, ela estaria agindo por interesse financeiro, o que a deixou bastante incomodada. “Ver essa personagem se apegando emocionalmente a um estranho que ela conhece na boate parecia irreal e perigoso”, diz.

Críticas à idealização e os riscos dessa narrativa

Para Emma, a ideia de que um homem “bom” e que não deseja prejudicar sua parceira seria suficiente para garantir uma relação saudável é uma ilusão. “Na nossa realidade, somos substituíveis. Homens que se dizem ‘gentis’ muitas vezes acham que podem nos seduzir, pagar pouco ou acreditar que terão alguma vantagem emocional.”

Ela também alertou para a tendência de filmes que romantizam o sofrimento, alegando que muitas histórias mostram profissionais do sexo como figuras trágicas, o que ela acredita reforçar um estereótipo nocivo: “As pessoas pensam que só porque uma mulher parece triste e emocional na tela, ela representa a nossa realidade, mas a nossa dor geralmente vem de outras questões, como insegurança financeira e desrespeito.”

Realidade x ficção: os limites da representação

Emma expressou seu desconforto com a forma como o filme retrata o sofrimento, comparando com sua experiência diária. “A fadiga, a insatisfação e o medo de não ter segurança financeira são problemas reais, mas não necessariamente ligados à sexualidade. O filme parece querer mostrar uma versão dramática da nossa vivência”, ela explica.

Finalmente, a profissional reforça que o que histórias assim transmitem é a visão de um “fantasia masculina”, onde o sofrimento é romantizado e a tristeza se torna a maior expressão do ‘realismo’.

A importância de uma visão autêntica

Emma destacou o valor de reconhecer a força das mulheres na indústria, que, apesar das dificuldades, se apoiam e promovem umas às outras. “O que me mantém na profissão são as colegas e a nossa capacidade de sermos inteligentes e resilientes. O filme poderia ter refletido esse lado, ao invés de focar em uma narrativa sensacionalista”, concluiu.

*Nome fictício utilizado para preservar a identidade da entrevistada.

*Este relato traz uma perspectiva essencial para ampliar o entendimento sobre a realidade das profissionais do sexo, muitas vezes distorcida ou romantizada na mídia.

**Meta descrição:** Uma trabalhadora sexual analisa o filme “Anora” e revela diferenças entre sua realidade e a representação no cinema.

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