A tensão entre o governo brasileiro e os Estados Unidos aumentou nesta semana após a Embaixada dos EUA endossar uma declaração do ex-presidente Donald Trump, que criticou a atuação do Judiciário brasileiro em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A defesa de Trump pela soberania de Bolsonaro gerou uma reação forte do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se manifestou tanto em nota oficial quanto durante o encerramento da cúpula do Brics no Rio de Janeiro.
A declaração de Trump e a defesa de Bolsonaro
Em uma publicação feita na sua rede social Truth Social, Trump afirmou estar “acompanhando um ‘caça às bruxas’ contra Bolsonaro” e que o julgamento do ex-presidente deveria ser realizado “nas urnas”, e não na Justiça. O ex-presidente brasileiro foi declarado inelegível em 2023 pelo Tribunal Superior Eleitoral e enfrenta processos no Supremo Tribunal Federal, relacionados a uma tentativa de golpe de Estado.
Na visão de Trump, Bolsonaro “não tem culpa de nada, exceto de ter lutado pelo povo”. Em sua declaração, ele reitera que conhece o ex-presidente brasileiro e elogia sua liderança, afirmando: “Sua eleição foi muito apertada e agora ele lidera nas pesquisas. Isso é apenas um ataque político, algo que eu conheço bem”.
Lula rebate Trump e reafirma a soberania do Brasil
Em resposta às declarações de Trump, Lula criticou qualquer forma de interferência externa nas questões nacionais. “A defesa da democracia no Brasil é uma responsabilidade dos brasileiros. Somos um país soberano e não aceitamos interferência de quem quer que seja”, afirmou o presidente brasileiro em comunicado oficial.
Durante a cúpula do Brics, Lula também expressou: “Não vou comentar sobre Trump e Bolsonaro. Tenho coisas mais importantes para discutir. Este país tem leis, regras e um dono chamado povo brasileiro, portanto dê palpite na sua vida, e não na nossa”. Essa declaração evidencia a postura de Lula contra qualquer pressão externa e a confiança nas instituições democráticas brasileiras.
Reações dentro do Brasil
A reação das autoridades brasileiras foi rápida. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, classificou as declarações de Trump como “equivocadas” e pediu que o ex-presidente americano cuidasse de seus próprios problemas, em vez de interferir na soberania brasileira. Gleisi é acompanhada por outros membros do governo, como o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, e o ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias. Este último reafirmou que “a soberania brasileira não está em negociação” e que o governo não aceitará pressões externas.
O deputado federal José Guimarães também elogiou a postura de Lula, sublinhando que o Brasil exige respeito de outras nações. A indignação se estende a vários setores do governo e do Congresso Nacional, que veem as intervenções de Trump como uma tentativa de desestabilizar a política interna do Brasil.
Bolsonaro agradece a Trump
Por outro lado, Jair Bolsonaro não deixou de agradecer as manifestações de apoio de Trump, chamando-o de exemplo de “fé e resiliência”. Isso demonstra uma divisão clara nas reações políticas em relação a Trump, com figuras de direita se alinhando ao ex-presidente americano e à sua defesa de Bolsonaro, enquanto o governo atual e seus apoiadores condenam essa atitude como uma afronta à soberania nacional.
Contexto da tensão e a cúpula do Brics
A declaração de Trump surge em meio a um contexto delicado de relações internacionais, especialmente após a cúpula do Brics, onde Lula e os líderes do bloco discutiram questões relevantes sem menção aos Estados Unidos. A “Declaração do Rio de Janeiro” resultante do encontro não cita os EUA, o que pode ser interpretado como um sinal de um governo brasileiro que busca fortalecer suas alianças dentro do bloco e distanciar-se das tensões com Washington.
Além disso, Trump deixou claro que países que se alinharem ao Brics poderão enfrentar sanções comerciais contra os EUA, o que levanta preocupações sobre as relações comerciais e diplomáticas do Brasil no cenário global.
Com a interação entre o governo brasileiro e Trump se intensificando, o público pode esperar mais reações e possíveis desdobramentos à medida que os políticos de ambos os países lidam com as implicações dessas declarações e a dinâmica nas relações internacionais.