As vendas no comércio varejista brasileiro recuaram 0,2% em maio em relação a abril, indicando o segundo mês consecutivo de queda após período de três meses de alta, segundo dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) divulgados pelo IBGE nesta terça-feira. A variação ficou abaixo das expectativas dos analistas de mercado, que projetavam crescimento de 0,2%.
Comércio ampliado e contexto atual
O comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, peças e materiais de construção, cresceu 0,3% em maio na comparação com o mês anterior. De acordo com o IBGE, a variação negativa de 0,2% no varejo tradicional é considerada estatisticamente neutra devido à base de comparação alta, uma vez que em março o índice atingiu o maior patamar desde o início da série, em 2000.
Razões para a estabilidade e recuo
O gerente da pesquisa, Cristiano Santos, explica que a leitura negativa dos últimos dois meses pode estar relacionada ao recuo do crédito à pessoa física, influenciado pelo aumento da taxa básica de juros. “Embora haja uma tendência de estabilização, é importante observar que ainda há um viés de baixa, influenciado por fatores como menor inflação e crescimento da massa de rendimento real”, comenta Santos.
Segundo ele, outros fatores contribuem para essa estabilidade, como a diminuição dos efeitos inflacionários de março a maio, especialmente em alimentação em domicílio, e o crescimento do número de pessoas ocupadas, que ainda sustenta uma condição de platô no setor varejista.
Setores que se destacam e desafios atuais
Apesar da variação total negativa, cinco das oito atividades do comércio apresentaram resultados positivos em maio: equipamentos e materiais de escritório, informática e comunicação (3,0%), móveis e eletrodomésticos (2,0%), artigos farmacêuticos e de perfumaria (1,7%), tecidos, vestuário e calçados (1,1%) e hipermercados, supermercados, bebidas e fumo (0,4%).
O movimento positivo dos setores de equipamentos e materiais de escritório foi impulsionado pela depreciação do dólar, que favorece importações e produtos exportados, uma tendência que perdura desde fevereiro. Por outro lado, atividades de uso pessoal, artigos domésticos e combustíveis tiveram resultados negativos, puxando o setor para baixo.
Perspectivas para o setor
Especialistas afirmam que o setor ainda não demonstra uma reversão clara de trajetória de queda, mas o cenário permanece de atenção. A estabilidade recente pode refletir um momento de transição, com efeitos de aumento de juros e redução de estímulos de crédito influenciando a retomada de crescimento.
O comportamento das vendas ao longo dos próximos meses será crucial para entender se a desaceleração atual é uma fase de ajuste ou sinal de uma tendência de recuo mais consistente. A continuidade da alta no emprego e do rendimento real serão fatores relevantes para sustentar a recuperação.