O falecimento do padre Matteo Balzano, ocorrido na cidade de Cannobio, na Itália, na última sábado, 5 de julho, provocou comoção na Igreja Católica, especialmente na Itália. Balzano, de 35 anos, cometeu suicídio, fechando um capítulo doloroso que evidencia a vulnerabilidade emocional dos sacerdotes diante de um cotidiano repleto de responsabilidades e isolamento.
O impacto do suicídio entre sacerdotes italianos e a denúncia de fragilidade emocional
Balzano foi encontrado sem vida em sua residência paroquial após colegas perceberem sua ausência na celebração da missa dominical. Sua história, marcada por dedicação ao ministério e ao povo jovem de Cannobio, evidencia uma realidade muitas vezes silenciada: a crise de saúde mental que afeta os sacerdotes.
Em uma mensagem comovente, o padre Franco Giudice, vigário episcopal para o clero da Diocese de Novara, afirmou que “somente o Senhor, que escuta e conhece cada um de nós, sabe entender os mistérios mais profundos da alma humana”. Giudice expressou solidariedade à família e à comunidade de Cannobio, em oração pelo falecimento do jovem sacerdote.
‘Ninguém conhece o inferno que alguém carrega’
Uma paroquiana de Balzano, Maria Grazia, relatou ao jornal Il Secolo d’Italia, que antes de tirar a própria vida, ele comentou a ela que “ninguém conhece o inferno que alguém tem por dentro” ao falar sobre a morte de uma pessoa próxima à comunidade.
No dia seguinte ao ocorrido, uma vigília de oração foi realizada na Igreja de São Vítor em Cannobio. Na manhã de terça-feira, 8 de julho, o bispo Franco Giulio Brambilla celebrou a missa funeral. Após o serviço, o corpo foi sepultado no cemitério de Grignasco, cidade a aproximadamente 90 km de Cannobio.
O coração humano dos sacerdotes e a necessidade de apoio emocional
Este episódio trágico evidencia a urgência de oferecer suporte emocional e acompanhamento psicológico aos padres, que frequentemente enfrentam cargas de trabalho elevadas e solidão. O padre peruano Omar Buenaventura, reconhecido por seu trabalho em solidariedade, refletiu sobre a vulnerabilidade inerente à condição sacerdotal.
“Como qualquer homem, sinto, sofro, rio, choro, fico ansioso, triste, e muitas vezes sinto o peso sobre meus ombros que parece me esmagar”, escreveu Buenaventura em uma publicação no Facebook. Ele destacou ainda que “dentro de cada sacerdote há um coração humano, com sentimentos, alegrias, feridas e histórias que poucos conhecem”, e que “sem Deus, estaríamos condenados a esse peso insuportável”.
Para o padre, a força divina é fundamental, mas é imprescindível que os religiosos também sejam acolhidos, escutados e apoiados como homens vulneráveis, que precisam de amor e compreensão, principalmente em momentos de crise.
‘Os sacerdotes não são super-heróis’
O padre espanhol Francisco Javier Bronchalo, de Getafe, reforçou que “os sacerdotes não são super-heróis” e que a vocação, embora sagrada, não os isenta do sofrimento emocional. Ele explicou que “a solidão do sacerdote é mais emocional do que física” e que a indiferença e o julgamento por parte da comunidade podem agravar esse isolamento.
Bronchalo afirmou ainda que o suicídio entre os religiosos não é um caso isolado, mas um sintoma de problemas que afetam muitas comunidades: “Padres que, por medo ou vergonha, silenciaram sua dor e, por isso, adoecem e enfrentam verdadeiras provas.”
Dados alarmantes de suicídio entre sacerdotes ao redor do mundo
Estudos indicam que a questão do bem-estar emocional dos sacerdotes é uma preocupação global. Uma pesquisa de 2020 revelou que, na França, pelo menos sete padres se suicidaram nos quatro anos anteriores. Na Irlanda, oito padres cometeram suicídio nos últimos dez anos, segundo a Associação de Padres Católicos. No Brasil, dados apontam que 40 sacerdotes perderam a vida por suicídio entre 2016 e 2023, um número que evidencia a gravidade do problema.
Especialistas relacionam essas ocorrências ao excesso de responsabilidades, problemas de saúde mental, ansiedade, depressão, além de uma cultura de altos padrões de exigência e o clericalismo que muitas vezes impede o reconhecimento do sofrimento interior dos religiosos.
Essa tragédia revela a necessidade de uma mudança na abordagem pastoral, priorizando a saúde psicológica e emocional dos sacerdotes, garantindo que eles não tenham que enfrentar sozinhos as batalhas internas que muitas vezes levam a desfechos tão extremos.
Esta matéria foi originalmente publicada pela ACI Prensa, parceira de notícias em espanhol da CNA, e adaptada para o português.