Na escola que ensino em Los Angeles, onde quase toda a turma é composta por estudantes imigrantes, as mudanças provocadas pelas ações do governo Trump refletem-se em ansiedade, medo e resiliência. Enquanto o presidente promove uma narrativa de “invasão estrangeira”, os jovens e suas famílias vivem uma realidade de perseverança e sacrifício sob a sombra de possíveis operações de ICE e discursos de combate à imigração.
Desafios diários na escola diante das políticas de Trump
Na semana da nossa formatura, escolas da LAUSD mobilizaram policiamento para evitar possíveis operações do ICE, que muitas vezes realizam prisões durante eventos comunitários. Apesar do medo, muitas famílias organizaram-se para assistir ao momento tão importante de seus filhos — alguns por meio de transmissões no Zoom, temendo uma intervenção policial.
Para os estudantes imigrantes, a cerimônia representa a culminação de anos de esforço, muitas vezes realizados sob a ameaça constante de ações migratórias. “Eles resistem, mesmo com medo”, afirma Glenn Sacks, professor na escola em Los Angeles. “A maioria dos pais trabalha duro, enviando remessas e lutando por um futuro melhor para seus filhos.”
Histórias de superação e coragem entre os estudantes
Estes jovens carregam histórias que poucos conhecem
Um exemplo é o de uma estudante de 17 anos que, desde os 12, trabalha nos finais de semana com o negócio da família para ajudar a sustentar seus estudos. Ou a jovem que enfrentou a rua e a violência em San Salvador, escapando de uma certa obrigação de se tornar namorada de gangues locais aos 14 anos, antes de seguir uma jornada que a trouxe até Los Angeles com esperança de reencontrar seu pai.
Na cerimônia, muitos se uniram ao exército, vendo na carreira militar uma oportunidade de cidadania ou de auxílio às suas famílias. “Alguns me disseram que preferem o Exército por acreditarem que esse é seu caminho para consigo regularizar sua situação”, relata Sacks. Muitos jovens veem na força militar uma alternativa à universidade, diante das dificuldades socioeconômicas.
Contribuições e dificuldades da imigração na sociedade de LA
Os imigrantes representam uma força vital na economia de Los Angeles, atuando em construção, gastronomia, agricultura e cuidados com idosos. São trabalhadores invisíveis, mas essenciais, frequentemente pagando impostos indiretos e contribuindo coletivamente para o funcionamento da cidade. Segundo dados do governo da Califórnia, eles pagam mais de US$ 50 bilhões em impostos estaduais e locais anualmente, além de gerar valor econômico por meio do trabalho.
Por outro lado, enfrentam discursos de hostilidade, como o de alguns políticos e comentaristas, que os acusam de “levar vantagens indevidas” ou “sustentar o sistema de benefícios públicos”, apesar de suas contribuições. É importante destacar que a narrativa de que imigrantes “não pagam impostos” não condiz com a realidade; eles são uma parte fundamental do tecido social e econômico da cidade.
Impactos políticos e a crise da narrativa oficial
O clima de tensão aumenta diante da contradição entre as declarações do governo Trump, que insiste em combater a imigração com ações severas, e a realidade de uma comunidade que luta diariamente para sobreviver e progredir. Enquanto o presidente fala de uma “invasão” e “criminalidade”, os jovens que conheço representam esperança e potencial, não problemas.
As ações do governo, incluindo os ataques às famílias e às comunidades, provocam insegurança e questionamentos sobre o futuro. “Muitos desses estudantes não sabem o que acontecerá com seus familiares presos ou deportados. Isso assombra todos nós”, afirma Sacks. A incerteza avança junto com o medo de uma política de intolerância e exclusão.
Resiliência e esperança na diversidade de Los Angeles
Apesar das dificuldades, os estudantes continuam sonhando com um amanhã melhor. Um deles, do primeiro ano do ensino médio, que chegou há pouco tempo e enfrenta dificuldades com o idioma, conseguiu uma bolsa para a faculdade de engenharia biomédica. Ao despedir-se na formatura, prometeu “seguir em frente”, mesmo com todas as adversidades. “Só preciso manter minha cabeça erguuda”, disse.
Este é o retrato de uma geração de imigrantes que, contra todas as probabilidades, constrói uma história de resistência, esperança e transformação em Los Angeles, muito além das narrativas de políticos ou de discursos de ódio.
Por Glenn Sacks, professor e colunista, originalmente publicado no HuffPost em junho de 2025.
