Brasil, 8 de julho de 2025
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Prada copia chappals de Kolhapur sem dar crédito: uma questão de apropriação cultural

Luxo e tradição se cruzam na passarela, mas a ausência de reconhecimento coloca em xeque a ética da moda internacional

Durante o desfile da coleção masculina de primavera de 2026, a Prada apresentou sandálias de couro que lembram fortemente as tradicionais chappals de Kolhapur, na Índia, sem mencionar suas origens. A reação nas redes sociais foi rápida, e muitos apontaram a questão da apropriação cultural sem o devido respeito ou crédito às comunidades que produzem esses artefatos há gerações.

A semelhança entre Prada e as chappals de Kolhapur

Nas imagens divulgadas, as sandálias apresentadas na passarela eram minimalistas, de tiras de couro e sem salto, similares às famosas chaapas de Kolhapur, que muitas famílias artesãs produzem manualmente usando matéria-prima tradicional, como couro de búfalo. Apesar de Prada não ter declarado oficialmente a inspiração, a semelhança foi notada por estilistas e consumidores atentos, levando a questionamentos sobre as práticas de direitos culturais na moda de luxo.

Comentários no Instagram, como “Por que eles estão usando flats indianas?” e pedidos por reconhecimento, ilustram a desconexão entre a apreciação estética e o respeito às origens culturais. As chappals de Kolhapur receberam reconhecimento oficial com uma indicação geográfica (IG) em 2019, protegendo sua autenticidade e origem artesanal, mas a apropriação na alta costura ainda gera controvérsia.

O valor cultural e artesanal das Kolhapuris

As chappals de Kolhapur representam um símbolo de resistência artesanal, produzidas à mão por artesãos há gerações. Cada par leva até duas semanas para ser concluído, utilizando técnicas tradicionais e materiais naturais; nada é sintetizado ou colado. Além do aspecto cultural e econômico para as comunidades locais, os calçados carregam uma história de identidade regional que frequentemente é ignorada no universo da moda de topo.

Especialistas alertam que a apropriação sem reconhecimento ameaça apagar as referências originais, transformando-as em mera inspiração superficial para o consumo de luxo. Pesquisa do Instituto de Cultura de Mumbai demonstra que a valorização e a preservação desses conhecimentos tradicionais dependem de valorização justa e do reconhecimento de suas raízes genuínas.

Resposta da Prada e a discussão sobre ética na moda

Procurada pela BuzzFeed Índia, a Prada afirmou que “reconhece que sandálias inspiradas na calçados tradicionais feitos em distritos específicos de Maharashtra e Karnataka foram apresentadas na coleção”. A marca acrescentou que “sempre celebra a artesania, o patrimônio e as tradições de design”, além de estar em contato com a Câmara de Comércio de Maharashtra para garantir “o reconhecimento adequado do artesanato”.

Apesar do posicionamento, a discussão sobre apropriação cultural na moda não é nova. Críticos defendem que marcas globais devem ir além do reconhecimento formal e promover diálogos autênticos e ações concretas de valorização e apoio às comunidades que produzem esses objetos tradicionais. Caso contrário, correm o risco de transformar história e cultura em objetos de consumo descontextualizados, muitas vezes valorizados a preço de ouro.

O que vem a seguir?

Especialistas apontam que mudanças no setor da moda são essenciais para promover uma representação justa e sustentável das origens culturais. A expectativa é que a Prada e outras marcas internacionais assumam uma postura mais responsável, incluindo parcerias reais com artesãos locais, divulgação de suas histórias e respeito aos direitos de propriedade intelectual tradicional, como a IG de Kolhapur.

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