Em um momento em que as relações humanas parecem ser cada vez mais superficiais, o chamado à acolhida ecoa fortemente na voz da Igreja. Dom Vital Corbellini, bispo de Marabá (PA), destaca a prática da acolhida que remonta ao século IV, quando a Igreja se organizou para oferecer assistência aos necessitados. Neste artigo, vamos explorar como essa tradição de acolhida, tão essencial ao cristianismo, continua relevante no mundo contemporâneo.
A importância da acolhida na espiritualidade cristã
A acolhida, segundo Dom Vital, não é apenas um ato humanitário, mas uma prática profundamente espiritual que nos aproxima de Jesus Cristo. “Jesus deseja de todos nós discípulos e discípulas práticas de acolhida para todas as pessoas que mais precisam”, enfatiza o bispo. Esse convite à acolhida reflete diretamente no relacionamento entre os cristãos e aqueles que necessitam de compaixão e entendimento.
No evangelho de Mateus (Mt 25, 35), é dito que acolher o próximo é acolher o próprio Cristo. Essa ideia central na mensagem cristã nos auxilia a entender que cada ato de bondade e compaixão carrega consigo um caráter sagrado e transcendente, tornando-se, assim, um reflexo do Reino de Deus.
Raízes históricas da acolhida na Igreja
A prática da acolhida tem suas raízes em épocas antigas, especificamente desde o Concílio de Nicéia em 325 d.C. Esse concípio não apenas reafirmou a divindade de Cristo, mas também fez um apelo à acolhida dos pobres, doentes e estrangeiros. O bispo era encarregado de designar monges para ficarem à frente das casas de acolhida, mostrando assim um compromisso institucional com a assistência aos mais vulneráveis.
Os monges, escolhidos por sua integridade e testemunho de vida, tinham a missão de cuidar das necessidades básicas daqueles que chegavam em busca de abrigo. “A acolhida sempre foi parte da essência da Igreja”, afirma Dom Vital, ressaltando que, mesmo na Instituição da Igreja, essa prática é considerada uma forma de manifestar amor a Deus ao servir ao próximo.
Olegação contemporânea da pastoral da acolhida
Hoje, as comunidades católicas continuam a oferecer apoio através de suas pastorais. A pastoral da acolhida tem um papel fundamental em garantir que todos os que buscam ajuda sejam recebidos com dignidade e respeito. É uma extensão do chamado de Cristo de servir uns aos outros, e esse trabalho é realizado principalmente por leigos e leigas dedicados que se dispõem a fazer a diferença.
Diante dos desafios atuais, como a crescente desigualdade social e a crise dos refugiados, a Igreja ainda se posiciona como um pilar de apoio e esperança. A acolhida não deve ser um ato isolado, mas uma parte integral da vivência cristã que desafia os fiéis a olhar com amor e compaixão para o próximo, especialmente em tempos de necessidade.
A mensagem de São Basílio e a reflexão sobre a riqueza
São Basílio, bispo do século IV, enfatizava a importância de usar as riquezas para o bem comum. Ele refletia sobre a parábola do rico insensato, questionando a responsabilidade que os privilegiados têm perante os necessitados. Sua mensagem é mais pertinente do que nunca, lembrando aos cristãos que a acumulação de bens não deve ofuscar a necessidade de compartilhar com aqueles que menos têm.
A acolhida dos estrangeiros e a caridade
A acolhida do estrangeiro é uma temática recorrente nos ensinamentos da Igreja, como assinalado por São Gregório de Nazianzo. Ele lembrava que, ao acolher o estrangeiro, acolhemos o próprio Cristo, que também enfrentou o exílio e a rejeição. Esta dimensão da acolhida se torna ainda mais crítica em um mundo onde os migrantes e refugiados enfrentam barreiras e preconceitos.
Por meio de suas palavras, Gregório nos convida a refletir sobre nossas próprias atitudes em relação ao próximo. A mesa eucarística, que deve ser um símbolo de comunhão, deve também estar aberta a todos, sem distinção.
Conclusão: a acolhida como prática cristã essencial
À luz do que foi discutido, a acolhida permanece uma prática essencial para a vivência do cristianismo. Ela não se limita a atos de caridade, mas integra a vida comunitária e a espiritualidade. Ao aceitarmos e amarmos o próximo, seguimos o exemplo de Jesus, que é o caminho, a verdade e a vida. Que possamos, assim, viver a acolhida em nossas vidas diárias, fazendo da Igreja um espaço de amor e solidariedade, preparando-nos para a eterna acolhida no Reino dos céus.