Brasil, 8 de julho de 2025
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Uma amizade improvável com Erik Menendez: 30 anos depois, o que quero que ele saiba

Uma carta emocionante revela uma amizade inesperada e reflexões sinceras de uma jovem que manteve contato com Erik Menendez por décadas.

Querido Erik,

Você se lembra de mim? Sou aquela garota de Prescott, Arizona — a tímida cheerleader que começou a escrever para você aos 16 anos. Já se passaram mais de 30 anos desde nossa última conversa, então não vou me sentir mal se você não se lembrar de mim. Imagino que teve muitas meninas correspondendo com você nesse tempo (mas, certamente, eu era sua favorita, certo?).

Ao longo dessas três décadas, sempre que seu nome vinha à tona — seja por notícias do seu caso ou pela estreia de algum documentário — eu preferi ficar em silêncio, deixando de mencionar nossa história. Como mãe suburbana que joga tênis no clube, organiza eventos beneficentes e ajuda na escola dos filhos, relacionar-me à sua história de assassinato e prisão parecia incompatível com minha imagem.

Tenho duas filhas, de 22 e 20 anos. Recentemente, durante uma viagem para buscar minha mais velha na faculdade, fiquei sozinha em um hotel enquanto ela saiu com amigos. Quando procurei algo na TV, apareceu o trailer do seu documentário na Netflix. Pensei em clicar em “play” — talvez eu pudesse entender o que me levou a escrever para você anos atrás.

Na verdade, evitei assistir tudo relacionado a você e ao seu caso por bastante tempo. Apesar de ter descoberto anos depois que você havia mentido sobre sua inocência, ainda senti uma compaixão por você. Essa descoberta não alterou meu desejo de preservar a inocência daquela época, quando, adolescente, escrevi para você — uma conexão que parecia pura e real naquele momento.

Ao assistir ao documentário, percebi o quanto as histórias de abuso que você e seu irmão Lyle sofreram eram devastadoras. Logo após, senti o impulso de entrar em contato novamente — algo que não fazia há mais de 15 anos.

A reaproximação e minhas memórias com Erik Menendez

Você parece estar presente na minha vida mais do que gostaria — seus rostos nas manchetes, seu nome nos noticiários. Ainda lembro de uma época, nos anos 90, quando folheava a revista People na fila do supermercado com minha mãe e lá estava vocês na capa. Naquele momento, devorei cada linha, sentindo uma empatia que parecia contrária ao que o resto do mundo pensava.

Ao receber sua resposta na época, escrita em lápis, minha surpresa foi grande: você me contou que queria saber mais sobre minha vida — minhas paixões, meus sonhos. Este intercâmbio de cartas aconteceu por cerca de dois anos, até que depoimentos das autoridades revelaram que seus advogados estavam investigando a correspondência. Temi que minha conexão com você pudesse me colocar em perigo.

As viagens, encontros e a dor da separação

Recordo de uma visita que fiz ao presídio — com uma identidade emprestada, numa tentativa de ser uma jovem adulta corajosa. Passeamos por lá em uma viagem de oito horas no carro, uma aventura de coragem pura, que até hoje me dá um frio na barriga quando lembro.

Nossos encontros foram breves, mas marcantes. Você parecia mais pálido do que nas fotos que via na mídia, e o que mais me marcou foi a leveza da conversa. Mesmo com o peso daquele ambiente, conseguimos criar uma conexão que parecia inocente — uma amizade que, na minha juventude, me fez sentir menos só.

Quando parei de falar com você, tudo ficou confuso — medo, insegurança, uma sensação de estar sobrecarregada. Sua declaração de amor, na hora errada, me assustou. Eu tinha apenas 18 anos e senti o peso da nossa ligação se tornar irreversível. E, logo após, a chamada da sua advogada, pedindo para que desligasse o telefone por minha segurança, solidificou minha compreensão de que nossas vidas estavam em extremos perigos.

Desde então, sinto que devo uma explicação — mesmo que seja 30 anos depois. Por que te escrevi? Talvez, na época, buscava uma forma de preencher a solidão, uma esperança de que alguém, mesmo sob circunstâncias tão terríveis, pudesse entender meu mundo trivial de escola, amizades e sonhos.

Ainda me questio se essa amizade teve algum significado mais profundo — uma mistura de curiosidade, empatia e desejo de conexão — ou se foi apenas minha necessidade de alguém que me ouvisse. De qualquer forma, você foi uma presença importante na minha juventude, um amigo silencioso que me acolheu sem julgamento.

Reflexões atuais e despedida

Hoje, ao saber da redução da sua pena e da possibilidade de liberdade, sinto uma mistura de alívio e esperança. Reconheço a sua transformação e as ações positivas que realizou enquanto está na prisão. Gostaria que toda essa história, por mais complexa, tivesse um fim de redenção e paz.

Escrever esta carta para você, embora tardia, foi uma forma de fechar um ciclo que carreguei por décadas. Apesar de tudo, agradeço por ter sido aquela pessoa que me escutou — gentil, paciente, presente.

Desejo que você encontre uma nova etapa de vida, longe das sombras do passado, e que possa, de uma maneira ou de outra, seguir adiante com esperança.

Com carinho,

Jen

Jennifer Sullivan Beebe é uma escritora que vive em Chevy Chase, Maryland, explorando temas de maternidade, mulher e cotidiano. Quando não está escrevendo, gosta de jogar tênis, caminhar na natureza e procurar equilíbrio na yoga.

Este artigo foi originalmente publicado na HuffPost em junho de 2025, disponível em HuffPost.

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