No último dia 7 de julho, aproximadamente 30 indígenas do povo Pataxó bloquearam a BR-101, em Itamaraju, no extremo sul da Bahia, exigindo a libertação de seu líder, Welington Ribeiro de Oliveira, conhecido como cacique Suruí Pataxó. A prisão do cacique ocorreu durante uma operação da Força Nacional de Segurança no território indígena de Barra Velha, uma área marcada por tensões agrárias e conflitos fundiários.
Condições da prisão e manifestação
O cacique e outros três indivíduos foram detidos no dia 2 de julho, ao serem encontrados portando armas dentro da reserva. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) confirmou que os indígenas reivindicam também a remarcação de terras, enfatizando a luta constante do povo Pataxó por seus direitos territoriais.
O protesto na BR-101 teve início na manhã do dia 7 e impediu totalmente o tráfego nas proximidades do trevo de Itamaraju, onde os manifestantes exigiram a soltura de Welington Ribeiro. Esta não foi a primeira ação de bloqueio; na sexta-feira anterior, outra interdição já tinha sido realizada, mobilizando a comunidade indígena em defesa de seu líder.
A reação da liderança indígena
O Conselho de Caciques do Território Indígena Barra Velha de Monte Pascoal divulgou uma nota de repúdio à ação da Força Nacional, alegando que a prisão do cacique não foi acompanhada de um mandado e teve motivações “claramente políticas e persecutórias”. Segundo a entidade, isso reflete um padrão de criminalização do movimento indígena no Brasil.
No documento, os caciques ressaltaram que as detenções não apenas desrespeitaram a dignidade humana, como também foram acompanhadas de tortura psicológica e física dos três detidos. A nota menciona que os adolescentes foram alvo de humilhações por parte da polícia durante o transporte, provenientes de ofensas e ameaças constantes.
A defesa do Ministério da Justiça e Segurança Pública
Em resposta ao tumulto, o Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou que a atuação da Força Nacional na região se concentra em preservar a vida, respeitar as culturas e garantir os direitos dos povos indígenas. De acordo com a pasta, os agentes são treinados para lidar com complexidades e priorizar a resolução pacífica de conflitos.
Ainda assim, a posição oficial do ministério não contém menções específicas sobre as alegações de tortura e humilhação feitas pelos indígenas durante a detenção do cacique. O ministério reafirmou sua disposição para dialogar com as comunidades e reconhecer a importância das lideranças tradicionais.
Histórico de tensões no território indígena
A tensão na região não é um fenômeno isolado. O conflito fundiário no extremo sul da Bahia tem uma longa data, marcada por disputas entre indígenas e produtores rurais. No último mês, um indígena foi morto em uma operação que visava a retomada de terras na cidade de Prado, evidenciando a gravidade das disputas territoriais que envolvem as comunidades locais.
Além disso, a Força Nacional chegou à Bahia no final de abril, prometendo uma presença que duraria 90 dias, com foco em áreas de conflito agrário como Porto Seguro e Prado. A intervenção, anunciada antes do Dia dos Povos Indígenas, foi pautada por recomendações de diversos ministérios, ressaltando a complexidade da situação na região e a necessidade de uma abordagem cautelosa.
Entre a luta e a resistência
A detenção do cacique Suruí Pataxó não apenas acende um alerta para as afirmações de violação de direitos humanos, mas também simboliza a resistência contínua do povo indígena na defesa de suas terras e cultura. Para os Pataxós, Welington Ribeiro não é apenas um líder, mas um símbolo da resistência contra a opressão e a luta pela dignidade de todos os povos originários do Brasil.
As próximas ações e o desenrolar desse protesto podem ter implicações significativas para o futuro das comunidades indígenas e os direitos reconhecimento de suas terras. A situação permanece tensa, com a expectativa de novas mobilizações e o clamor pela justiça e respeito aos direitos indígenas crescendo em todo o Brasil.
Leia mais sobre a situação no g1 Bahia.