No dia 28 de junho, às 9 da manhã, um grupo de noviços, acompanhado por seu mestre, embarcou em uma jornada decisiva em sua formação: uma missão nas comunidades ribeirinhas do rio Amazonas. O destino era a região de Parauá, localizada em Careiro da Várzea, onde nos moldes das tradicionais visitas, as comunidades de Nazaré do Parauá, Nazaré do Tarumã, São José do Jauaçú e São Francisco do Parauá esperavam por eles. Nessa data, a cheia do Amazonas transformou o cenário, convertendo terra firme em um imenso mar de água, onde a única locomoção se dava por canoas. As casas flutuantes, erguidas sobre as águas da floresta, refletiam a resiliência e adaptação dos moradores à natureza avassaladora.
A descoberta da generosidade no coração do povo amazônico
A vivência nas comunidades ribeirinhas proporcionou valiosas lições sobre a generosidade e a força da fé. O que mais impressionou foi a forma como as pessoas, apesar das carências materiais, partilhavam o pouco que tinham como se fosse muito. A simplicidade dessa generosidade revelou um coração aberto a dar e acolher, um símbolo de vida e amor.
As comunidades mostraram que a pobreza não é sinônimo de tristeza. Em vez disso, a espiritualidade e a união que cultivavam em suas relações eram abundantes. A generosidade no interior da floresta demonstrou que, muitas vezes, o que procuramos está bem diante de nós, em gestos simples e sinceros de amor ao próximo.
Imagens que deixam uma marca no coração
Uma cena em particular ficou gravada na memória do grupo: crianças pequenas remando sozinhas nas canoas, navegando por águas que muitos considerariam perigosas. Essas crianças já enfrentam a dura realidade do dia a dia, mas fazem isso com um espírito de bravura que inspira. O medo de cair na água se assemelha ao medo de enfrentar desafios. Com suas vidas, elas nos ensinam a importância da coragem, resistência e fé.
Reflexões sobre o jubileu da fé amazônica
Neste Ano Jubilar, é importante reconhecer a trajetória de muitos homens e mulheres que, mesmo diante das dificuldades, buscam a presença de Jesus em suas vidas. O padre Júlio Caldeira, IMC, lembrou que eles são chamados a navegar para longe da costa, lançar as redes e confiar que o Senhor os acompanha em suas jornadas. Com essa força, os missionários também se uniram a essa peregrinação diária, aprendendo e amadurecendo em suas próprias vidas espirituais.
O tempo como presente do missionário
Refletindo sobre a sabedoria de nosso saudoso mestre, padre José Martín, aprendemos que “o tempo é a solução para nossas dúvidas e inseguranças”. Na missão, o tempo se torna o bem mais precioso: é a oportunidade de ouvir, rir, compartilhar e oferecer consolo. Esse tempo dedicado à comunidade é o que realmente importa.
Como cristãos, temos o dever de levar Jesus até as margens do rio, atravessando as águas e enfrentando as intempéries, mesmo que isso signifique enfrentar os pernilongos e o calor. Apesar das dificuldades, é uma tarefa que vale a pena, pois o Evangelho se faz presente além das paredes da igreja, buscando a salvação da humanidade em cada ser.
Descobrimos que mais do que levar Jesus, Ele já está presente, visível em cada olhar e cada sorriso daqueles que nos acolhem com um prato de comida ou um gesto de amizade. Nossa missão se torna a de tornar visível a ação de Cristo em cada coração, e frequentemente, acabamos retornando mais consolados do que ao chegarmos.
Viver a missão em constante movimento
A vida missionária é vibrante e dinâmica. Dormimos em casas diferentes, partilhamos refeições em várias comunidades e celebramos em múltiplos locais, muitas vezes utilizando a água do próprio rio para o banho. Em meio a este intenso dinamismo, tudo ganha sentido na medida em que nossos corações buscam o Reino. A missão nos ensina a reconhecer o muito que recebemos e a refletir sobre o pouco que realmente damos.
Certamente voltaremos, pois a missão nunca termina. O rio amadurece a cada dia, e onde existe uma comunidade esperando, Jesus também nos espera, pronto para nos guiar em nossa jornada de fé.
Por Sérgio Warnes – noviço no Noviciado dos Missionários da Consolata em Manaus, Brasil