Brasil, 8 de julho de 2025
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A dura realidade das mulheres em Bukavu, RDC

Testemunho de Josephine revela as dificuldades enfrentadas por mulheres em meio à guerra em Bukavu, na República Democrática do Congo.

No leste da República Democrática do Congo (RDC), a cidade de Bukavu vive uma crise humanitária sem precedentes, exacerbada pelo avanço do grupo rebelde M23 e seus aliados ruandeses. Entre os muitos rostos que sofrem com essa situação, destaca-se o de Josephine, uma mãe de quatro filhos que luta diariamente para sustentar sua família. Sua história, coletada pela agência FIDES, expõe as dificuldades enfrentadas por mulheres em zonas de conflito, onde a vida tornou-se insuportável.

O impacto da guerra na vida cotidiana

“Sou mãe de quatro filhos que procuro mandar para a escola. Recolho garrafas de plástico vazias e, depois de lavá-las, encho-as com água ou suco de fruta feito com uma preparação em pó, coloco-as no congelador e depois as vendo por 200 francos suíços (menos de 10 centavos de euro)”, conta Josephine. O seu relato reflete a realidade da economia de sobrevivência que muitos habitantes de Bukavu adotaram, uma cidade onde o comércio formal praticamente se desmoronou devido à insegurança.

Desde o início da guerra do M23, muitas famílias, como a de Josephine, perderam suas principais fontes de renda. “Em Bukavu, a vida se tornou muito difícil: muitos perderam os seus empregos, muitos já não fazem comércio devido aos saques sistemáticos dos armazéns onde guardávamos as nossas mercadorias”, lamenta. As consequências da guerra não atingem apenas o comércio, mas também a segurança da população, com casos de violência e saques se tornando frequentes.

O sofrimento das mulheres em situações de conflito

Além dos desafios financeiros, as mulheres em Bukavu enfrentam uma carga emocional ainda mais pesada. Josephine expressa a dor de ver seus filhos sendo expulsos da escola devido à falta de pagamento das mensalidades. “O pai deles era funcionário público e, como outros funcionários públicos, não trabalha. Não temos escolha a não ser nos desenrascar”, explica, revelando como a crise de governança impacta a vida das famílias.

O testemunho de Josephine também destaca a violência sexual que tem se intensificado na região. “Começamos a registrar estupros, mesmo no centro da cidade, embora os pais tentem esconder o crime para que a filha não perca o respeito da população”, afirma. Este ciclo de violência não é apenas um reflexo da instabilidade na segurança pública, mas também um triste símbolo da desumanização que a guerra traz às comunidades vulneráveis, especialmente às mulheres.

A busca por paz e dignidade

Em meio a esse sofrimento, Josephine não perde a esperança. “Eu pediria ao nosso governo nacional para nos ajudar, antes de tudo, a trazer a paz ao leste do país, comprometendo-nos a todos os níveis, porque os assassinatos são incontáveis”, diz com um tom de desespero. Ela clama pela paz, reiterando que sem ela, nada é possível. “Com paz, tudo se torna fácil; sem paz, nada é possível”, reforça.

Josephine também destila sua indignação contra os grupos armados, dizendo: “Ao M23, eu diria: quem vem libertar uma pessoa, não a mata! O libertador procura a paz.” Suas palavras ressoam a mensagem de que a verdadeira libertação é aquela que promove a vida e não a morte, o que contrasta fortemente com os atos perpetrados pelos rebeldes.

Um apelo à comunidade internacional

Seu apelo se estende à comunidade internacional, onde ela ecoa as palavras do Papa Francisco: “Tirem as mãos da África!”. A crítica é direcionada à exploração dos recursos naturais do Congo e à atuação de interesses externos que deterioram ainda mais a situação local. “Vocês se apresentam como ricos, mas nós, congoleses, somos os ricos. Vocês nos enganam dizendo que estão a ajudar-nos, mas são criminosos de colarinho branco”, desabafa.

Como muitas mulheres em condições semelhantes, Josephine é um símbolo de resistência. “Agora eu saio com as minhas garrafas; amanhã vou vendê-los por alguns centavos… e a vida continua”, finaliza. O seu testemunho é um chamado à ação para aqueles que podem contribuir para um futuro mais pacífico e próspero na RDC, lembrando a todos que, mesmo em meio à tragédia, a dignidade humana deve prevalecer.

Assim, a história de Josephine serve não apenas como um relato da realidade de Bukavu, mas também como um lembrete poderoso sobre a força das mulheres diante da adversidade e a urgência de uma solução pacífica para os conflitos na República Democrática do Congo.

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