A 99Food, controlada pela chinesa Didi, está adotando medidas restritivas contra restaurantes parceiros na sua estratégia de enfrentar a concorrência no mercado de delivery do Brasil. Segundo proposta de contrato vista pela coluna, a companhia proíbe estabelecimentos de firmar contratos com rivais como Rappi e Keeta, em troca de um incentivo financeiro conhecido como upfront.
Contratos restritivos e incentivo financeiro
Conforme documento obtido, a cláusula determina que o restaurante não poderá estabelecer relações comerciais com empresas do grupo Meituan/Keeta ou Rappi durante o período de vigência do contrato. Além disso, há uma exigência de que o estabelecimento mantenha preços semelhantes ou inferiores aos praticados na plataforma da 99Food e suas lojas físicas.
Em contrapartida, a 99Food compromete-se a pagar um valor de incentivo, que pode chegar a milhões de reais, a restaurantes considerados estratégicos. “A proposta visa proteger nossa participação em um cenário de alta competição”, afirmou a empresa à coluna, sem detalhar os critérios de seleção dos estabelecimentos beneficiados.
Estratégia de proteção e expansão
O contrato também impõe que os restaurantes não mantenham vínculos que possam gerar vantagem econômica ou estratégica para rivais, evitando qualquer tipo de parceria que possa representar concorrência potencial ou efetiva à 99Food. Segundo fontes do setor, ofertas na casa dos milhões já teriam sido feitas para redes consideradas estratégicas.
Ao ser questionada, a 99Food assegurou que “todas as suas práticas são legais e amplamente utilizadas no mercado de delivery no Brasil”. A estratégia envolve uma espécie de proteção em camadas, que inclui a restrição de usar plataformas rivais enquanto promove incentivos financeiros.
Domínio do iFood e o cenário competitivo
O movimento ocorre em meio à crescente disputa pelo domínio do mercado de delivery de comida, onde o iFood atualmente lidera, mas tem enfrentado desafios de novos entrantes, como a Rappi, que reforçou sua operação no país, e a Keeta, adquirida pela chinesa Meituan.
De acordo com o CEO da Keeta, a estratégia da rivalidade inclui ações para cobrir todo o Brasil até o fim de 2026. Segundo ele, a presença no mercado deve se intensificar com novos recursos e ofertas, como a promessa da Rappi de reinvestir na expansão em breve.
Reações do setor e perspectivas
Especialistas avaliam que esse tipo de contrato é comum na competição por espaço em mercados altamente disputados, embora levantem debates sobre aspectos éticos e de livre concorrência. A 99Food reforçou que a sua estratégia é legal e focada na proteção de sua participação de mercado.
Para o analista de mercado João Lima, a prática de restrições pode gerar mudanças no cenário, sobretudo se for vista como uma estratégia de exclusão que afeta a livre escolha do consumidor e a concorrência harmoniosa.
O futuro do setor será influenciado por esses movimentos, com possibilidade de novas regulações ou pressões por parte de órgãos de defesa da concorrência, à medida que o mercado de delivery de comida no Brasil continua a evoluir rapidamente.