A crise envolvendo o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) alterou drasticamente a relação entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), levantando dúvidas sobre a continuidade da agenda econômica do governo Lula. Após mais de dois anos de parceria próxima, os laços se estreitaram ao ponto de rupturas públicas e internas, colocando em risco propostas como a elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
Impacto na relação entre Haddad e Motta
O distanciamento começou após a votação do decreto que aumentou as alíquotas do IOF, considerado a maior derrota do governo até aqui. Integrantes do Palácio e membros do Congresso apontam que a crise se agravou após Motta decidir colocar em votação a derrubada do decreto no dia 25 de junho, rompendo um acordo tácito com o ministério da Fazenda. O episódio gerou forte desgaste, com acusações internas de rompimento de consenso.
‘Pessoa amiga da Fazenda’
Desde o início da semana passada, Haddad e Motta não mantêm contato direto. Em encontro na semana anterior, o ministro tentou reestabelecer o diálogo, mas a relação ainda está tensa. Segundo Haddad, “espera uma explicação do antigo aliado”, enquanto Motta, que foi líder do Republicanos na Câmara até o ano passado, mantém uma postura mais reservada. O presidente Lula chegou a afirmar que acionou o STF para reverter a decisão do Congresso, evidenciando a gravidade do cenário político.
Hadda e Motta tiveram uma relação próxima no passado, com encontros recorrentes no Ministério da Fazenda, onde Motta atuava como interlocutor de Haddad no Congresso. Antes do impasse, o deputadoPB participava ativamente de negociações políticas que envolviam a aprovação de reformas e medidas fiscais, incluindo o arcabouço fiscal de 2023.
‘Moramos no mesmo prédio’
O alinhamento entre ambos foi rompido após o decreto do IOF em 22 de maio. A partir de então, sinais de afastamento ficaram evidentes, culminando numa troca de declarações públicas em que Motta afirmou que “toda essa discussão sobre as contas é sobre todos nós que moramos no mesmo prédio”. O episódio refletiu o crescente descontentamento de ambos com o desenrolar da crise.
Na avaliação do Congresso, o deputado da Paraíba, após assumir a presidência da Câmara, passou a agir mais conforme lideranças partidárias e de oposição, dificultando o alinhamento com o governo. Líderes relataram que, na última reunião com Haddad, na Residência Oficial da Câmara, o ministro adotou um tom mais formal e distante, evitando diálogos profundos sobre o tema.
Perspectivas futuras
A expectativa agora é que ambos participem de uma reunião de conciliação agendada pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, para tentar resolver o impasse do IOF. O episódio evidencia o risco de a crise comprometer projetos essenciais do governo, como a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda e outras prioridades fiscais.
Especialistas apontam que o afastamento entre Haddad e Motta representa uma fissura na articulação política do Executivo. “Sem o apoio do Congresso, fica difícil avançar na agenda econômica”, afirmou um assessor do Ministério da Fazenda, que preferiu não se identificar.
O cenário de relação difícil reflete a complexidade de manter um governo com apoiadores diversificados em um momento de forte disputas e interesses políticos. A recuperação do diálogo entre Haddad e Motta será decisiva para o sucesso das propostas futuras do Planalto, sobretudo diante dos obstáculos na tramitação de medidas fiscais importantes para o ajuste das contas públicas.
Mais detalhes sobre a crise podem ser acompanhados em a cobertura do Globo.
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