O novo documentário de Petra Costa, intitulado “Apocalipse nos trópicos”, tem gerado intensos debates e polêmicas, especialmente em relação à figura do pastor Silas Malafaia. O filme, que explora como o crescimento e a influência dos evangélicos na política brasileira moldaram o cenário contemporâneo, não agradou ao pastor, que não hesitou em demonstrar sua indignação durante a sessão especial de estreia. Saindo aos berros da sala de cinema, Malafaia se revelou incomodado não apenas com a narrativa, mas com a forma como sua figura foi retratada.
A influência evangélica na política brasileira
No cerne do documentário está a ascensão de pastores fundamentalistas e a crescente presença evangélica no cenário político do Brasil ao longo da última década. O filme aponta Malafaia como um exemplo emblemático desse fenômeno, mostrando como ele utiliza sua posição para guiar o voto de seus fiéis, sempre valendo-se do nome de Deus para justificar sua posição política.
Um líder multifacetado
Silas Malafaia é retratado no documentário como um pastor que, segundo seus interesses, se alinha a diferentes partidos políticos. Desde apoio a Lula, José Serra e Aécio Neves até sua aliança final com Jair Bolsonaro nas vésperas da eleição de 2018, seu papel na política brasileira se consolidou como um verdadeiro camaleão, adaptando-se às circunstâncias. Após a vitória de Bolsonaro, Malafaia o recebeu em sua igreja como um verdadeiro herói, entoando gritos de “Mito!”.
“Deus escolheu as coisas fracas para confundir as fortes”, diz Malafaia a Bolsonaro, utilizando uma retórica religiosa que serve tanto para conquistar aliados quanto para deslegitimar os adversários. Essa abordagem polêmica é criticada pela diretora do filme, que observa como o pastor representa uma mudança na liderança brasileira, ao utilizar os versos bíblicos em benefício de suas aspirações pessoais.
Malafaia e seu jogo de poder
O documentário escancara a habilidade de Malafaia em manobrar sua influência política para proteger interesses pessoais. Quando Bolsonaro indicou André Mendonça ao Supremo Tribunal Federal, por exemplo, Malafaia ameaçou se opor a qualquer senador que não apoiou a indicação. O pastor não hesitou em usar sua plataforma digital para demonizar outros líderes religiosos que se aproximaram de Lula em 2022, prometendo uma espécie de vingança pública através de suas redes sociais.
Cenas reveladoras e comportamentos questionáveis
Em outra cena impactante, Malafaia responde com agressividade a um motoqueiro que mudava de faixa em sua frente, revelando um traço de sua personalidade controversa. A situação expõe não apenas sua intolerância, mas também uma vertente de poder que se reflete em suas interações diárias. Tal comportamento ecoa as posturas de seus aliados políticos, configurando um cenário de polarização que assola o Brasil atualmente.
Teologia da prosperidade e críticas
Malafaia se destaca como um exemplo do sucesso financeiro atrelado à teologia da prosperidade, transformando uma simples igreja em um império financeiro. A filmagem de sua vida ostentadora, que inclui carros de luxo e uma vida de excessos, critica a contradição entre a mensagem religiosa e sua vida pessoal.
Ainda mais chocante é a afirmação de Malafaia de que Lula não teria apoio entre o eleitorado evangélico nas eleições de 2022, demonstrando sua confiança em prever eventos com base em suas convicções pessoais. No entanto, após a derrota de seu candidato, Malafaia foi além e incitou publicamente o golpe, oferecendo apoio ao uso das Forças Armadas para restaurar a ordem no Brasil diante de uma crise política.
Considerações finais
“Apocalipse nos trópicos” não é apenas um retrato de uma figura controversa; é um convite à reflexão sobre o papel da religião na política brasileira. Silas Malafaia emerge como um símbolo de um novo tipo de liderança, que desafia tanto a ética quanto a moralidade, mostrando como a fé pode ser manipulada para fins políticos. Este documentário não apenas documenta a realidade atual, mas provoca vital discussão sobre os limites da religiosa na esfera pública e os perigos que essa influência pode trazer.
Com suas reações intensas e mensagem provocativa, Malafaia torna-se uma figura central no debate sobre a natureza da política no Brasil, desafiando espectadores a reconsiderarem suas percepções sobre a intersecção entre religião e política.