As maiores petroleiras do mundo estão revisando seus investimentos em novos campos e reservas, diante da perspectiva de manutenção dos preços do petróleo entre US$ 60 e US$ 70, o menor patamar em quatro anos. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), o investimento global emprodução de petróleo deve cair 6% em 2025, atingindo US$ 420 bilhões, primeiro recuo desde a pandemia de Covid-19.
Reavaliação de portfólios e foco em mercados mais resilientes
As gigantes do setor estão adiando projetos considerados mais arriscados e de maior custo, como exploração de reservas não convencionais em áreas de difícil acesso, em países como os EUA, Canadá e Argentina. Na Europa e no Brasil, há uma redução na produção terrestre e em águas rasas, além do fechamento de refinarias de alto custo na região, em busca de maior eficiência e menor exposição a riscos macroeconômicos.
Estratégias de ajuste na Petrobras
Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, a Petrobras, que há pouco anunciou uma revisão em seu plano de investimentos, trabalha para reduzir despesas, renegociar contratos e direcionar recursos para regiões com potencial mais promissor, como as bacias de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e a Margem Equatorial, no Norte do Brasil. A presidente da estatal, Magda Chambriard, reforçou a postura de disciplina de capital frente ao cenário de risco e demanda incerta.
Apesar do aumento da violência no Oriente Médio, o petróleo não apresentou alta significativa, refletindo o fortalecimento dos fundamentos de mercado, com maior produção da Opep+ e a política de preços mais baixos nos Estados Unidos, alinhada à estratégia de diminuir o custo dos combustíveis. A previsão é de que a oferta supere a demanda até o final desta década, mantendo os preços pressionados para baixo.
Na reunião de ontem, o cartel Opep+ decidiu elevar a oferta de petróleo em 548 mil barris por dia, além dos aumentos já previstos para os meses de maio, junho e julho. Tal movimentação reforça a tendência de excesso de oferta no mercado global, diluindo expectativas de alta sustentada.
Ajustes na produção e venda de ativos para reforçar o portfólio
De olho na redução de custos, as petroleiras estão desacelerando suas atividades de produção em áreas de menor retorno, vendendo ativos e concentrando os investimentos em regiões de maior potencial de produtividade, como o pré-sal brasileiro e reservas na África e na América do Sul. A ExxonMobil, por exemplo, vendeu ativos em Vaca Muerta, na Argentina, e investe agora em áreas de maior rentabilidade na Guiana e na Bacia da Foz do Amazonas, onde arrematou blocos em parceria com a Petrobras.
Segundo o diretor da AB Pip, Rivaldo Moreira Neto, a busca por sinergias e eficiência operacional se intensifica, com empresas pregando maior disciplina de capital. Para ele, a prioridade neste momento é preservar a rentabilidade de projetos com preço de referência de pelo menos US$ 35 por barril.
Transição para energia de menor impacto e novos mercados
Além do foco na produção de petróleo, as companhias estão investindo em gás, petroquímica e biocombustíveis. A Petrobras anunciou aporte de R$ 33 bilhões no antigo Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), com objetivo de expandir o uso do gás natural, produzir combustíveis com menor emissão de carbono, como diesel com 10% de conteúdo renovável e querosene de aviação sustentável (SAF), além de fortalecer sua atuação na área de derivados.
A expectativa do setor é que, diante da desaceleração global na demanda por petróleo, os preços permaneçam pressionados nos próximos anos, dificultando o retorno ao patamar de US$ 80 por barril. Rivado Moreira Neto reforça que a combinação de excesso de oferta, conflitos pontuais e avanços tecnológicos mantém os preços em níveis baixos no curto e médio prazo.
Para o CEO da petroleira independente Prio, Roberto Monteiro, o controle de custos e o aumento de eficiência operacional continuam sendo a prioridade, com projeção de crescimento na produção para mais de 200 mil barris diários até 2026, mesmo em cenário de incerteza.
Assim, o atual momento exige maior seletividade e foco em ativos mais resilientes, além da busca por novas oportunidades em áreas de menor risco e custos compatíveis com o cenário de preços baixos, refletindo uma fase de ajustes e reposicionamento estratégico do setor petrolífero global.
Fonte: GLOBO