Durante a reunião de cúpula do Brics no Rio de Janeiro neste domingo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que é urgente reformar a arquitetura financeira internacional, criticando o funcionamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Lula destacou que as estruturas atuais funcionam como um “Plano Marshall às avessas”, onde economias emergentes financiam o desenvolvimento dos países mais desenvolvidos.
Reformas na arquitetura financeira internacional
Lula afirmou que os mercados de ajuda internacional estão insuficientes e que os custos da dívida dos países mais pobres aumentaram. Segundo o presidente, “as estruturas do Banco Mundial e do FMI sustentam um Plano Marshall às avessas, em que as economias emergentes e em desenvolvimento financiam o mundo mais desenvolvido”. Ele ainda enfatizou que, desde 2015, três mil bilionários acumularam US$ 6,5 trilhões, reforçando a necessidade de justiça tributária e combate à evasão fiscal como estratégias para crescimento sustentável.
A fala ocorreu na plenária “Fortalecimento do Multilateralismo, Assuntos Econômico-Financeiros e Inteligência Artificial”, que contou com representantes do grupo BRICS, países aliados e organizações internacionais. Lula destacou que a justiça tributária é fundamental para uma economia mais inclusiva e para a redução das desigualdades globais.
Compromisso com um sistema tributário mais justo
No documento final da cúpula, os países do Brics assumiram o compromisso de promover um sistema tributário internacional mais justo, estável e eficiente, com aumento do diálogo global sobre tributação e redução das desigualdades. Lula defendeu a revisão do sistema de cotas do FMI, propondo que os votos do grupo no órgão corresponderiam a pelo menos 25% do total, atualmente em 18%.
“Precisamos de um sistema de cotas que reflita a realidade do peso econômico dos países do Brics, para que nossas vozes sejam ouvidas de forma mais proporcional”, afirmou Lula. Ele também criticou a paralisia da Organização Mundial do Comércio (OMC), diante do aumento do protecionismo comercial, afirmando que a situação de assimetria prejudica os países em desenvolvimento.
Futuro do multilateralismo e tecnologia
Na sua fala, Lula reforçou a defesa do multilateralismo como solução para fortalecer as estruturas globais. Ele também enfatizou a importância de uma governança justa na inteligência artificial, defendendo que seu desenvolvimento não seja privilégio de poucos países ou instrumento de manipulação por bilionários. “As novas tecnologias devem atuar dentro de um modelo de governança justo, inclusivo e equitativo”, afirmou.
Lula criticou a “paralisia” da OMC, atribuindo-a ao aumento do protecionismo, que cria desigualdades e impede o avanço das negociações comerciais, especialmente em questões agrícolas e ambientais. O presidente destacou que é necessário um novo pacto sobre comércio e clima, que distinga políticas ambientais legítimas de protecionismo disfarçado.
Resistência ao enfraquecimento do Brics
Na avaliação de Celso Amorim, ex-chanceler e um dos principais articuladores do grupo, a preocupação global de que o Brics estaria enfraquecido na sua representatividade revela, na verdade, sua força e resiliência em um momento de mudanças internacionais. Segundo Amorim, o grupo deve continuar defendendo uma postura de fortalecimento do multilateralismo e da justiça econômica mundial, apesar das tensões atuais.
Em relação às estratégias futuras, Lula reafirmou a necessidade de ampliar a participação do grupo em organismos internacionais, buscando maior representatividade e condições de influenciar as decisões globais de forma mais efetiva.
Para mais detalhes sobre a cúpula, veja o pronunciamento completo de Lula.