O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou neste domingo (6) na 17ª Cúpula do Brics, que acontece no Rio de Janeiro e se estende até esta segunda (7). Em um cenário global marcado por um aumento significativo de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial, Lula enfatizou a crítica à crescente militarização das potências, destacando o papel da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nesse contexto.
Aumento de gastos militares e corrida armamentista
Durante seu discurso, Lula afirmou que a decisão recente da Otan de aumentar os gastos com defesa “alimenta a corrida armamentista”. Ele comparou a facilidade de destinar 5% do PIB para despesas militares com a dificuldade de alocar os 0,7% prometidos para a Assistência Oficial ao Desenvolvimento. “Isso evidencia que os recursos para implementar a Agenda 2030 existem, mas não estão disponíveis por falta de prioridade política”, apontou.
O presidente insistiu que é muito mais simples financiar a guerra do que investir em paz e desenvolvimento, reforçando a crítica à falta de prioridade política em resolver crises globais. Segundo ele, a verdadeira resolução das crises passa pela implementação de uma governança mais eficaz e justa.
Colapso do multilateralismo e a ONU
Em um momento de reflexão sobre a situação das instituições internacionais, Lula também comentou sobre o “colapso do multilateralismo”, afirmando que a Organização das Nações Unidas (ONU) enfrenta uma “perda de credibilidade e paralisia”. Ele mencionou que a ONU completou 80 anos, mas a eficácia de suas ações está ameaçada, ressaltando a necessidade de reforma no Conselho de Segurança para torná-lo mais justo e representativo.
“Se a governança internacional não reflete a nova realidade multipolar do século XXI, cabe ao Brics contribuir para a sua atualização”, disse Lula. Ele reiterou a necessidade de inclusão de novos membros permanentes do Conselho de Segurança, advogando por uma representação mais equilibrada que possa atender às demandas de países do Sul Global.
Conflitos atuais e a defesa da paz
Lula não hesitou em usar a palavra “genocídio” para se referir aos conflitos atuais, especialmente o que ocorre na Faixa de Gaza. Ele criticou as ações militares de Israel e defendeu a criação de um Estado palestino soberano, dentro das fronteiras de 1967. O presidente também chamou a atenção para as violações de integridade territorial no Irã e na Ucrânia, pedindo um diálogo mais profundo para a construção de um cessar-fogo e uma paz duradoura.
A defesa de uma abordagem multilateral para a resolução dos conflitos foi reiterada por Lula em sua participação no Fórum Empresarial do Brics, que ocorreu um dia antes da cúpula. Ele destacou a urgência de se buscar soluções que engajem todas as partes envolvidas e que priorizem a construção de um ambiente internacional mais cooperativo.
Desafios e prioridades do Brics sob a presidência brasileira
Embora a presença de conflitos esteja clara, Lula e sua equipe buscaram garantir que temas ligados à saúde, meio ambiente e inteligência artificial sejam as prioridades na agenda da cúpula, enfatizando a importância de discutir propostas concretas de cooperação entre os países membros. O Brics tem o potencial de ser um catalisador para promover a paz e prevenir conflitos, devido à sua representatividade e diversidade.
O Brasil assumiu a presidência do bloco no início de 2025 e, diante de um contexto internacional adverso, enfrenta o desafio de manter uma postura neutra nos conflitos. Especificamente, especialistas alertam sobre a necessidade de lidar com a pressão vinda de potências como China e Rússia, que podem ter agendas políticas divergentes em relação às do Brasil.
Com a expectativa de aprovar declarações conjuntas nas áreas prioritárias ao final da cúpula, a missão do Brasil é resguardar sua neutralidade enquanto propõe soluções sustentáveis que atendam as demandas do Sul Global.
A cúpula e os discursos de Lula refletem não apenas a postura do Brasil em questões internacionais, mas também um apelo à reforma e à revitalização das instituições globais que são essenciais para o fortalecimento da cooperação entre países em desenvolvimento. Afinal, em tempos de grande adversidade, a colaboração mútua se torna ainda mais vital para a promoção da paz e da justiça mundial.