A Justiça argentina colocou o monsenhor Mariano Fazio, vice-reitor auxiliar da Prelatura do Opus Dei, como acusado formalmente no caso envolvendo tráfico de pessoas e trabalho análogo à escravidão de 43 mulheres no país. A denúncia, que foi apresentada oficialmente em 2024, aponta irregularidades na recrutação e na situação de semi-escravidão dessas mulheres, muitas delas menores de idade na época.
Relevo na acusação contra Opus Dei
Até agora, o processo incluía quatro sacerdotes que atuaram como autoridades na organização entre 1991 e 2015: Carlos Nannei, Patricio Olmos, Víctor Urrestarazu e Gabriel Dondo. Agora, o documento também criminaliza Fazio, atualmente vice-reitor da Prelatura do Opus Dei no mundo, por sua suposta participação no caso. A Procuradoria contra o Tráfico de Pessoas na Argentina solicitou sua oitiva para esclarecimentos.
A acusação detalhada
Embora a denúncia reproduza que pelo menos 43 mulheres foram recrutadas como menores de idade — com promessas de educação e moradia — e obrigadas a trabalhar de forma gratuita como empregadas domésticas, ela se concentra na história de uma delas. Segundo o Ministério Público, o Opus Dei apresentou uma “falsa proposta” de formação, sendo que as mulheres, na realidade, prestaram serviço doméstico sem remuneração e tiveram seus direitos violados.
O documento também denuncia um sistema de “doutrinação e manipulação psicológica”, que incluía regras rígidas de conduta, como a obrigação de castidade, corte de laços familiares, visitas periódicas ao médico e uso de medicamentos psiquiátricos, tudo sob ameaça de punição. A vítima, uma mulher boliviana que trabalhou por 30 anos para a organização, contou que chegou a servir diretamente Fazio e outros sacerdotes.
Resposta de Opus Dei
O escritório de comunicação do Opus Dei na Argentina divulgou uma nota, reagindo às acusações reportadas pelo jornal espanhol Eldiario, reiterando que a investigação se refere “à situação pessoal de uma mulher” durante seu período na organização e que nega categoricamente qualquer envolvimento com tráfico ou exploração laboral.
A organização afirmou estar surpresa com a mudança na narrativa, inicialmente centrada na suposta inconsistência de contribuições previdenciárias e vínculos de emprego, que posteriormente evoluiu para alegações de tráfico de pessoas e danos financeiros. Ela defende o direito de defesa das pessoas mencionadas e o direito de que possam apresentar suas versões dos fatos para esclarecer a questão.
O que dizem as mulheres e a visão do Opus Dei
Segundo a denúncia, as mulheres recrutadas foram enganadas com promessas de formação espiritual e estabilidade, mas foram submetidas a tarefas domésticas não remuneradas durante anos. Entre elas, há relatos de doutrinação extrema, com imposição de regras de vida e ameaças de punições físicas e psicológicas. No entanto, a própria organização sustenta que as “assistentes numerárias” entraram na vida por escolha própria, sob o desejo de seguir sua vocação religiosa.
De acordo com o Opus Dei, participar do movimento é uma decisão consciente, e elas podem deixar a organização a qualquer momento. A instituição também reitera que as residências oferecem condições adequadas, com remuneração, plano de saúde e ambientes para descanso e estudo.
Quem é Monsenhor Mariano Fazio?
Fazio nasceu em Buenos Aires, em 25 de abril de 1960, e é formado em história pela Universidade de Buenos Aires e doutor em filosofia pela Universidade Pontifícia da Santa Cruz, no Vaticano. Ordenado sacerdote em 1991 pelo Papa João Paulo II, atuou como reitor da Universidade Pontifícia Santa Cruz e foi presidente da Conferência de Reitores de instituições católicas na América Latina.
Desempenhou funções de destaque na Igreja, tendo sido bispo auxiliar do Opus Dei desde 2019. Em suas atividades, esteve envolvido em missões na Argentina, Paraguai e Bolívia, além de participar de reuniões importantes com o Papa Francisco relacionadas à situação do Opus Dei mundialmente.
Na recente crise, Fazio foi chamado a prestar esclarecimentos às autoridades argentinas, que investigam possíveis crimes de tráfico e exploração. A organização reafirma seu compromisso de colaborar com as autoridades para esclarecer os fatos e buscar justiça.
Este caso marca um momento delicado para o Opus Dei, cuja estrutura e influência estão sendo questionadas frente às alegações de exploração e tráfico de mulheres na Argentina.