Rio de Janeiro — A cúpula do Brics, realizada no Rio de Janeiro no último domingo (6), gerou uma declaração intensa e crítica em relação ao “aumento indiscriminado de tarifas” e às medidas protecionistas que afetam o comércio internacional. O comunicado, todavia, não faz referência direta às políticas econômicas dos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump, que têm sido amplamente reconhecidas pelo seu uso do “tarifaço”.
O texto da declaração destaca que “o sistema multilateral de comércio está há muito tempo em uma encruzilhada”. A contínua proliferação de ações restritivas, seja por meio de tarifas ou medidas não-tarifárias que buscam se esconder sob justificativas ambientais, representa uma ameaça significativa à diminuição do comércio global. Isso pode interromper as cadeias de suprimentos, introduzir incertezas nas atividades comerciais e acentuar disparidades econômicas existentes, prejudicando as perspectivas de desenvolvimento econômico mundial.
O impacto das medidas unilaterais
O bloco também expressou “sérias preocupações” sobre o crescimento das medidas tarifárias e não-tarifárias adotadas de forma unilateral. De acordo com o Brics, tais ações “distorcem o comércio e são inconsistentes com as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC)”, sugerindo que elas violam os princípios estabelecidos para promover um comércio justo e equilibrado entre as nações.
Vale destacar que a declaração omitindo a menção aos Estados Unidos é uma escolha estratégica e diplomática, possivelmente visando evitar uma escalada nas tensões comerciais já existentes. As críticas genéricas podem também refletir uma tentativa de manter um discurso coeso entre os países membros do bloco, que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Repercussões no cenário global
As escolhas feitas durante a cúpula podem ter consequências significativas para as relações internacionais e o comércio global. A postura cautelosa do Brics diante dos Estados Unidos pode ser vista como uma forma de diplomacia que busca evitar antagonismos diretos, enquanto ainda se posicionam contra políticas que consideram prejudiciais ao comércio livre.
A clivagem nas relações comerciais globais está se acentuando, e a resistência a medidas protecionistas é, ainda, uma estratégia para defender um sistema que deveria ser, por sua natureza, multilateral e justo. O crescimento do protecionismo, influenciado por eventos recentes como as crises econômicas e as polarizações políticas, tem levado a uma série de reavaliações sobre o futuro do comércio internacional.
A posição do Brics sobre os conflitos no Oriente Médio
Além das preocupações comerciais, a declaração da cúpula também se posicionou sobre os conflitos no Oriente Médio, especialmente em relação aos recentes ataques ao Irã. Embora tenham condenado essas ações, a declaração novamente não fez referência direta aos Estados Unidos, que desempenharam um papel significativo nesse contexto. O comunicado denunciou os ataques realizados em junho de 2025, considerado uma violação do direito internacional e da Carta das Nações Unidas, sem, porém, nominar os perpetradores.
Esse cuidado em não mencionar diretamente os EUA pode ser interpretado como uma tentativa de manter canais diplomáticos abertos e evitar uma escalada de tensões que poderia prejudicar outros aspectos das relações internacionais.
Em suma, a cúpula do Brics no Rio de Janeiro evidenciou um momento de introspecção no bloco, que busca fortalecer seu papel no comércio internacional enquanto navega por um ambiente global cada vez mais complexo e desafiador.
O futuro do comércio mundial dependerá, em grande parte, da capacidade dos países em encontrarem um terreno comum e evitarem o protecionismo excessivo, que em última análise pode ser prejudicial a todos os envolvidos.