Na manhã desta sexta-feira (10), um júri de Manhattan declarou culpado o famoso empresário e produtor musical Sean “Diddy” Combs em dois dos cinco delitos pelos quais era réu, em um caso de tráfico sexual. O julgamento aconteceu na corte federal de Nova York e evidenciou a complexidade do processo que durou semanas, envolvendo depoimentos de mais de 34 testemunhas.
Combs condenado por transporte para prostituição e absolvido de acusação de terrorismo sexual
O fundador da Bad Boy Records foi considerado culpado por transportar suas ex-parceiras, Cassie Ventura e uma mulher anônima conhecida como Jane, para engajar-se em atos de prostituição mediante transporte interestadual, infração prevista na Lei Mann. Combs foi absolvido, no entanto, das acusações mais graves de conspiração de formação de quadrilha e tráfico sexual à força, fraude ou coação.
Durante o julgamento, Ventura e Jane relataram que Combs as forçou a participar de encontros sexuais com trabalhadores masculinos, fornecendo drogas como ecstasy e MDMA para manterem-se acordadas durante as chamadas “freak-offs”, algumas das quais foram registradas pelo próprio artista. “As freak-offs se tornaram uma rotina onde minha única esperança era me recuperar e tentar sentir-me normal de novo”, relatou Ventura.
Contexto e acusações durante o julgamento
Os promotores apresentaram evidências de que Combs, além de suas atividades pessoais, liderava uma suposta organização criminosa que, segundo acusaram, envolvia sequestro, arrombamento, trabalho forçado e suborno, praticados contra pessoas próximas. No centro do processo, testemunharam ex-funcionários, agentes e as ex-namoradas de Combs.
Maria Ventura, mãe de Cassie, também depôs, afirmando que Combs exigiu US$ 20 mil dela e ameaçou divulgar vídeos explícitos de sua filha após descobrir que ela tinha um relacionamento com outra pessoa. Segundo relatos, a ex-namorada apresentou uma queixa civil em novembro de 2023, que contribuiu para a investigação federal e resultou na acusação de Combs, que foi resolvida extrajudicialmente por US$ 20 milhões.
Testemunhos marcantes e revelaçãos de vítimas
A testemunha mais contundente foi Cassie Ventura, que descreveu os abusos durante o relacionamento e as pressões sofridas. Ela relatou que Combs a obrigava a participar de atividades sexuais com outros homens, chegando a usar drogas para continuar os encontros, além de gravar parte dessas sessões. “As freak-offs se tornaram um trabalho sem espaço para nada além de tentar sobreviver”, declarou Ventura.
Outra testemunha, Jane, revelou detalhes perturbadores de abuso e violência, incluindo episódios onde tentou sinalizar sua resistência aos avanços de Combs, mas sem sucesso. Além disso, ela relatou que, após denunciar a situação, percebeu uma mudança na postura de Combs, que passou a ser mais frio e apologético, embora continuasse a exercer controle e agressão.
Celebrities e depoimentos adicionais
Durante o processo, testemunharam ainda artistas e profissionais do setor musical, como Dawn Richard, que acusou Combs de agressões físicas, incluindo uma tentativa de ataque com uma frigideira. O rapper Kid Cudi também comentou ter enfrentado retaliações após seus relacionamentos com Ventura e Combs.
Reação e desfecho do julgamento
A defesa de Combs admitiu que ele tinha um histórico de violência doméstica, mas insistiu que tais atos não configuravam tráfico sexual. Os advogados de defesa solicitaram duas perícias de nulidade do julgamento, alegando má conduta por parte do Ministério Público, mas os pedidos foram indeferidos pelo juiz responsável.
Com a condenação, Combs pode enfrentar até 20 anos de prisão pela prática das infrações pelas quais foi declarado culpado. Ele ainda responde a diversas ações civis por acusações de assédio e abuso sexual, que ainda aguardam desfecho na Justiça.
Perspectivas futuras
O caso marca um capítulo importante na luta contra o abuso de poder e a impunidade na indústria do entretenimento. A sentença reafirma que figuras de destaque podem ser responsabilizadas por atos ilícitos, independentemente de sua influência ou status social. O julgamento traz à tona uma discussão mais ampla sobre o combate à violência sexual e a proteção às vítimas.